a noite começou como nada demais:
um filme velho no escuro,
minha mão na cintura dela como quem segura
o próprio destino,
eu e ela, ali, no escuro,
calados pelo som da tv.
ela encostou a cabeça no meu peito
e por um segundo o mundo inteiro se calou,
como se dissesse: "olha bem, idiota,
isso é paz."
depois veio o sexo, suado, sem pose,
com a pressa de quem não quer perder o calor do agora.
foi bonito.
não como nos filmes, foi melhor.
foi verdade.
a cama desarrumada virou altar.
a pele dela grudada na minha.
e eu ali, bobo, agradecendo a existência dela
sem dizer nada.
porque falar seria profanar o momento.
acordei olhando o rosto dela,
apreciando como um
fumante trêmulo diante do primeiro trago do dia,
como se meu peito soubesse que ali havia sossego,
como se meu corpo entendesse que ela era abrigo.
e por um segundo, só por um,
o mundo não era cruel.
era só ela,
e o jeito que o cabelo dela caía no travesseiro,
e o som abafado do mundo lá fora,
e o cheiro do café que ainda não existia,
mas que eu já queria fazer pra ela.
antes que o dia começasse,
arranquei dela uma gargalhada.
e a gargalhada dela é a minha melodia favorita:
baixinha, contida, quase tímida,
como quem não quer acordar o mundo.
mas é ali, entre o riso preso e o canto da boca,
que mora o sorriso mais bonito
que já vi em toda minha vida.
um sorriso que quase diz:
"fica."
e eu fico, até se ela dormisse de novo.
a gente quase perdeu a hora
porque o corpo dela ainda era um convite aberto
e a manhã ainda aceitava.
transamos de novo.
rápido, sujo, bom.
a vida inteira em 7 minutos.
preparei o café com um zelo burro:
tapioca, pão com queijo na chapa,
e aquele café quente que eu nunca faço pra mim.
ela saiu correndo,
amarrou o cabelo, passou batom no reflexo do espelho
pediu um uber moto: a pressa das mulheres incríveis.
eu guardei a tapioca numa vasilha qualquer,
enfiei na bolsa dela como quem diz:
"leva um pedaço de mim contigo."
fiquei na porta,
vendo ela sumir de capacete,
descendo a rua.
e juro:
quando ela virou a esquina,
me deu uma vontade absurda de acender um cigarro
mesmo sem fumar.
porque ali, naquele minuto,
eu entendi o que é ter tudo
e ver o tudo sumir em um instante.
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Autor:
Willie Stchaikovski (
Offline)
- Publicado: 3 de agosto de 2025 15:35
- Categoria: Amor
- Visualizações: 4
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