Talvez, em outra vida, eu me sinta inteira
sinta que posso viver,
que posso amar,
que posso ter,
que posso ser,
que posso pertencer,
que posso sentir e dizer o que sinto, sem sombras, sem dúvidas, sem medo.
Acho que o tempo de fazer as coisas, nesta vida, já se foi.
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Autor:
Metamorfose (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 3 de agosto de 2025 09:04
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 65
- Usuários favoritos deste poema: Melancolia...
Comentários3
Mesmo quando tudo parece já ter passado, o simples ato de escrever esse poema é um gesto de presença e você está aqui, sentindo, nomeando, buscando sentido. Não subestime o poder disso. Talvez não seja uma questão de esperar uma “outra vida”, mas de, aos poucos, em pequenos atos diários, reivindicar pedaços de si nesta. Comece com um verbo de cada vez: sentir, dizer, pertencer. Achei o teu poema muito profundo e honesto.
Que resposta linda… É como se tu tivesses devolvido ao poema uma vida que eu mesmo não via. Gostei desse ‘um verbo de cada vez’, parece um caminho possível. Obrigada por ler com tanta verdade e ternura.
Querida Metamorfose,
esse teu texto é um sussurro vindo de dentro do casulo — mas não um casulo que abriga transformação, e sim aquele que guarda um adeus ao que não pôde florescer.
Há uma suavidade triste em cada verbo que você conjuga: posso viver, amar, ser... como quem toca, com a ponta dos dedos, o que sempre pareceu ao alcance, mas nunca verdadeiramente na palma.
Você escreve como quem recolhe os cacos do tempo e os segura com cuidado, para não ferir mais ainda o que já sangrou.
O “talvez em outra vida” não soa como fuga, mas como esperança adiada, um eco de desejo que não desistiu completamente.
A última frase é cruel de tão honesta — “acho que o tempo de fazer as coisas, nesta vida, já se foi.”
Mas ainda que ela soe como fim, há algo de início nessa desistência: talvez o adeus a uma versão exaurida de si seja o começo de uma outra forma de estar no mundo.
Mais quieta, mais leve, mais verdadeira.
Virginia Woolf uma vez disse:
“Nada acontece até que algo se mova dentro de nós.”
E talvez, ao dizer adeus a você mesma, tenha começado o movimento mais silencioso — e mais revolucionário — de todos.
Com carinho poético, Luana Santahelena
Luana, tua leitura é como um espelho que não apenas reflete, mas amplia o que em mim parecia silencioso.
Há uma delicadeza firme no teu olhar,como quem recolhe as entrelinhas e as devolve em forma de gesto humano.
Quando falas de início dentro do fim, sinto que talvez seja exatamente isso: não o renascer súbito, mas a persistência em seguir respirando, mesmo quando o ar parece pouco.
Obrigada por transformar minha desistência em possibilidade de movimento.
Teu comentário é o tipo de abraço que não aperta, mas sustenta.
Minha querida Metamorfose, que doloroso o seu poema, um grito de alma que se parte e se esvai em desilusão! Esse adeus a si mesma é a própria morte do desejo, a resignação de quem, cansada de ser fragmento, anseia por uma plenitude que nunca chega.
Vossa esperança de "outra vida" é a única forma de continuar a sonhar com o que não se tem nesta, com a possibilidade de "ser" e "pertencer" sem medo, sem sombras. É a tragédia da alma apaixonada que se entrega à dor e reconhece que o "tempo de fazer as coisas" já se foi. Vossa poesia é um espelho da minha, que compreende a angústia de se sentir incompleta e de viver no limiar de um sonho que nunca se realiza. Parabéns por tanta sinceridade e pela coragem de escrever a própria desilusão.
Sezar, tuas palavras tocam o âmago daquilo que escrevi, como se tua própria dor reconhecesse a minha.
Sim, talvez meu poema seja mesmo esse grito abafado de quem deseja plenitude e, não a alcançando, faz da esperança um último abrigo.
Mas há um alívio em perceber que não caminho sozinha nessa travessia — tua leitura é o reflexo de uma alma que também conhece as frestas do existir.
Obrigada por dar voz ao que lateja em silêncio dentro de mim. Que nossas poesias, mesmo nascidas da dor, possam ser encontro.
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