Entre fumaças e cigarros, entre o feixe de luz na janela,
o tempo parece parar — ou talvez seja eu que fico suspenso.
A brasa acesa desenha um pequeno sol no escuro do quarto. Cada tragada é um intervalo. Entre o que fui e o que finjo ser. Entre o que ainda sinto e o que prefiro esquecer.
Lá fora, a cidade dorme com um olho aberto. As luzes dos postes dançam no vidro embaçado. Aqui dentro, só o som baixo de um disco antigo e o cheiro agridoce de madrugada mal dormida.
Fumo não pela nicotina. Fumo por companhia.
A fumaça sobe como pensamentos que não sei nomear — difusos, densos, bonitos de um jeito triste.
E nesse feixe de luz que escapa da janela, quase dá pra ver poeiras flutuando feito lembranças.
Penso em amores que não voltam, em frases que calei, em ruas que nunca mais pisei.
Talvez eu escreva pra isso: pra nomear o que a fumaça leva, mas o peito guarda.
Entre fumaças e cigarros, sigo me consumindo em silêncio.
E mesmo assim… sigo.
Luiz Beatriz
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Autor:
Luiz Beatriz (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 31 de julho de 2025 14:30
- Comentário do autor sobre o poema: apenas o silêncio de uma noite vazia
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 11
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