ela me mandou um vídeo no instagram.
dizia que ama quando elogio o que ela nem vê em si.
me arrancou um sorriso aberto.
sem escudo. sem ensaio.
e aquilo me destruiu.
no bom sentido.
se é que existe um.
ela lembrou de mim vendo o céu
rasgado em sangue sobre o são francisco.
me escreveu isso.
me viu ali, no fim da tarde quente
que queimava o mundo em silêncio.
e quis que eu soubesse.
isso me desmonta.
porque é simples.
mas não é.
porque ela não era assim.
porque ela não precisava ser assim.
ela me comprou um chocolate.
e eu fiquei sorrindo igual um idiota por meia hora.
como se aquele gesto resolvesse
meus traumas, minha fome de afeto,
minha vontade de caber em alguém.
ela elogiou minhas mãos.
as mesmas que eu aprendi a esconder.
as mesmas que tremem quando tocam nela,
com medo de errar.
ela disse que são bonitas.
e por um instante eu acreditei.
ela tá abrindo o peito,
devagar, no ritmo dela.
e eu vejo isso.
não passa batido.
nada disso passa batido.
porque pra alguém como eu,
que viveu no silêncio,
que aprendeu a amar pedindo desculpa,
essas coisas pequenas
são terremotos.
e eu sou grato.
absurdamente grato.
pelo esforço, pela entrega,
por cada vez que ela escolhe não fugir.
mas tem dias em que eu penso:
meu deus, como isso dói de tão bom.
como isso fere,
como isso me obriga a continuar existindo
mesmo quando eu queria desaparecer.
ela não sabe,
mas quando ela me ama desse jeito torto e doce,
eu morro um pouco.
e volto.
melhor.
e talvez seja isso o amor.
essa porra toda.
morrer devagar
pra nascer inteiro
na mão de alguém
que aprendeu a não soltar.
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Autor:
Willie Stchaikovski (
Offline)
- Publicado: 28 de julho de 2025 00:46
- Comentário do autor sobre o poema: Oi! Se gostou do texto, posto trechos no instagram: @manualquasehomem
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 4
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