Por quê?
Todos os dias acordo por volta das 3 da manhã e vejo o silêncio.
É nele que encontro paz, como se fosse um defunto descansando em seu túmulo,
debaixo de um palmar de macieiras.
No outono, as folhas caem —
e com elas, caem também os sentimentos que tenho ao observar o mundo ao meu redor.
Não aguento essa sociedade.
Não aguento minha família.
Só queria ir embora. Essa é a minha maior dor.
Não consigo entender.
As pessoas são tão cegas diante de suas falas e atos
que parecem incapazes de perceber o contexto das relações, dos acordos,
do simples fato de que não estamos sozinhos no mundo.
É como se olhassem apenas para o próprio umbigo.
Se essa sociedade compreendesse sua própria natureza egoísta,
talvez houvesse alguma paz nesse mundo hostil.
É até irônico: amam discursos humanistas ,
mas na prática são só seres vazios, egoístas, apáticos.
Eu, como um tolo iludido,
tento agradar, ajudar, compreender —
até mesmo esses miseráveis, ignorantes por natureza,
afogados em suas mágoas, sem saber que são a origem de tanto caos.
Mãe,
me sinto um idiota.
Sei que tens raiva de quem eu sou.
E também raiva quando eu tento ser algo diferente.
Eu tento te entender. Tento com tudo o que posso.
Mas falho. Miseravelmente.
Ainda assim, tento. Tento sempre.
Só queria ser um bom filho. Um bom homem. Um exemplo.
Mas quando tento, você se afasta.
Quando sou eu, você se entristece.
Fico entre a vontade de agradar e a dor de me anular.
É uma antítese viva que carrego no peito.
Vejo tantos se achando inteligentes,
achando que sabem da vida dos outros,
mas incapazes de compreender o contexto,
as dores, os porquês que existem ao redor.
Pagam de sábios — mas são vazios.
Neste mundo hostil, eu só me perco.
Me afogo na ideia de que, se não for agradável para os outros,
não valho nada.
E me vem essas dúvidas
por que essa sociedade exige empatia se não sabe praticá-la?
Por que tantos falam de compreensão
quando nem sequer ouvem ou sentem de verdade?
Já estou farto.
Farto de ser chamado de ignorante
só porque não aceito as mentiras e as maldades que me oferecem como verdades.
Só queria paz.
Um lugar onde eu não precise ouvir, nem responder.
Um descanso onde as palavras não doam e os olhares não julguem.
Onde minha mente possa silenciar.
Se ao menos minhas cinzas fossem jogadas ao mar e à terra…
Mas o pior de tudo é saber:
mesmo morto, mesmo esquecido,
ainda viriam perturbar minha sombra,
e me chamariam de ignorante
por ter forjado minha própria morte precoce.
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Autor:
Thomas Vasconcellos Ivanov (
Offline)
- Publicado: 26 de julho de 2025 21:52
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 2
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