O Crime Que Eu NÃO Cometi

escrevendoo

Um crime mora em mim.

Não fui eu quem cometeu,

mas sou eu quem paga a pena,

sozinha, em silêncio,

trancada dentro de mim.

 

Foi um toque.

Um toque errado.

Que invadiu, destruiu,

e deixou marcas em lugares que ninguém vê.

Eu não queria,

eu não pedi assim.

Mas mesmo assim, ficou.

 

E o corpo, coitado…

confuso, ferido,

às vezes sente, deseja, reage.

E eu me odeio.

Me odeio por sentir algo

que me faz lembrar dele.

Desse alguém que me tirou pedaços.

 

Esse é o meu crime:

o desejo que me dá nojo,

o prazer que me machuca,

a lembrança que me prende.

É como compactuar com o que me destruiu,

mesmo sem querer.

 

Eu queria contar.

Queria falar com minha psicóloga.

Mas tenho medo…

Medo do olhar dela mudar.

Medo do julgamento.

 

E pior ainda:

o medo da minha mãe.

De ouvir da boca dela:

"Então você gostou?"

Como se fosse simples.

Como se fosse escolha.

Como se não tivesse sido um furacão

levando minha inocência embora.

 

Esse é o medo que mais dói:

o julgamento dos meus pais,

dos meus irmãos.

Eu sei… eu menti antes,

por atenção, por confusão,

por medo.

Omiti verdades, criei histórias.

E agora que a dor é real,

agora que isso queima dentro de mim,

tenho certeza de que não vão acreditar.

 

Então eu calo.

Engulo.

Enterro.

Prefiro manter isso preso no peito,

trancado num canto escuro do coração,

sem dar sinal,

sem deixar que descubram.

 

Porque se souberem…

vão me ver como cúmplice.

Como suja.

Como alguém que mereceu.

 

E tudo o que eu queria era viver.

Ser adolescente.

Crescer sem carregar esse fardo.

Sem me sentir dividida

entre a criança que pede colo

e a adulta que carrega culpas que não são suas.

 

KAKAKAKAK…

irônico, não?

O maior crime não foi o que fizeram comigo.

Foi me fazer acreditar

que eu tenho que esconder

pra continuar sendo amada.

 

 

  • Autor: apenas escrevendo... (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 22 de julho de 2025 14:58
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 2


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.