Meu cárcere

Jonas Teixeira Nery

Ela veio na primavera com um vento incerto, 
trazia os olhos tristes e muita e impaciência.
No desalinho triste das suas emoções, calada,
depositou seu cansaço nesta casa, nesta cama.

Nas banalidades dos dias entrantes e ilusões,
despojou seus medos, sentimentos e reticências.
Era um dia tépido, um tanto velado, inerte,
com um tédio inquieto, íntimo e sonhos ausentes.

Ela veio mansamente com sua tristeza intensa,
tristeza dispersa e uma vaga angústia, descabida.
Deitou-se na minha cama numa tarde lenta...
Ela sempre foi meu cárcere, meus conflitos.

Tecemos caminhos e armadilhas nessa fome.
Qualquer coisa de penumbra ergueu-se,
nesses momentos, aflorando desejos febris.
Sua carne tinha frescor e um perfume vago.

Deleitei-me ao seu lado entre vagos murmúrios.
Ela se deixou enternecer pela tarde incerta,
fez um silêncio repentino, cheio de nada, lento,
órfãos de afeições, fome inevitável e inquietações. 

Ela chegou entre esperanças e saudades.
No desalinho das minhas emoções, um abraço.
No entardecer, vejo seus gestos vagar resignados.
Ela adormeceu minha monotonia e minha fome...

  • Autor: JTNery (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 21 de julho de 2025 16:01
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 3
Comentários +

Comentários1

  • Jorge Teixeira

    Ficou ótimo, para não dizer bravos.
    JC



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