Ficou no Tempo

Marcelo Marques - Cig

Na curva calma da juventude,
Te vi primeiro, puro arrebol,
Teu riso era minha inquietude,
Meu céu azul, meu girassol.

Trocamos cartas, promessas vãs,
Sonhos moldados no entardecer,
Dois corações, duas manhãs,
Que não sabiam o que era perder.

O tempo veio, cruel e calado,
Levou teus passos pra outro chão,
E eu fiquei com o peito marcado
Por um amor sem continuação.

Tua voz, que antes me despertava,
Hoje ecoa num velho papel,
Mas cada linha que me lembrava,
Ainda brilha feito um anel.

A distância, com mãos invisíveis,
Rasgou os planos, mudou a rota,
Levou teus olhos, tão impassíveis,
Deixou-me só com a alma remota.

Teu nome ainda mora em segredo
Num canto quieto do meu pensar,
Primeiro amor, eterno enredo,
Que o tempo não pôde apagar.

Nos desencontros da juventude
Ficou a rima do que não foi,
Mas tua ausência tem atitude:
Fez-me poeta depois que se foi.

Talvez, noutro tempo e caminho,
Teus olhos busquem o que deixei,
Um verso solto, feito sozinho,
Que só tua ausência completei.

Assim, te guardo com ternura,
Sem mágoa, culpa ou desamor,
Pois mesmo longe, tua doçura
Foi meu princípio, meu professor.

E quando a noite é mais serena,
Te sinto perto, feito oração—
Um amor de alma tão pequena,
Que fez gigante o coração.

  • Autor: Marcelo Marques - Cig (Offline Offline)
  • Publicado: 17 de julho de 2025 06:54
  • Comentário do autor sobre o poema: Aquele amor puro em sua essência, o primeiro, o único...
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 3


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