Dois lados da moeda

— você tem medo da morte?
não.
tenho medo da vida.
essa filha da puta
que te esmaga em silêncio
e ainda exige que cê sorria.

— e o amor?
o amor…
foi quem me rasgou sem dó,
me deu motivo pra chorar,
mas hoje é caos bonito,
bagunça que acalma,
tempestade que vira abraço.

amor é a porra do motivo
e também a cura do estrago,
é quem me colou com cuidado,
e razão pra eu ficar.

— então por que continuar?
porque parar é dar vitória pro sistema.
e eu?
tô fodido, mas não fui vencido.
tropeçando, mas não caí.
bebo pra não gritar,
escrevo pra não sumir.
sou metamorfose ambulante,
mudo tudo, menos a vontade de lutar.

— e se tudo isso não valer nada?

então a gente sacode o mundo
antes que ele desabe em cima da gente.
explode poesia na cara do sistema,
grita com a alma em carne viva:

“ainda tô aqui, porra.
porque a rua é noix
e a luta continua.”