O Anjo Que Não Me Deixa.

Há uma sombra que não dorme,

Nem quando o mundo se cala.

Ela me segue nos cantos da alma,

Com olhos que não perdoam nada.

Não tem nome, não tem rosto,

Mas carrega espada nas mãos.

Não fala, mas seu silêncio pesa

Mais que mil condenações.

Quando beijo o abismo em segredo

E chamo o pecado pra vir,

Ele surge, imóvel e frio,

Não me salva, mas não deixa cair.

Vê meu corpo em guerra consigo,

Minha alma tentando fugir.

Não impede o erro — só assiste,

Mas me obriga a sentir.

Viu minha mãe com olhos no alto,

Esperando um sinal que nunca chegou.

Acendia promessas no peito cansado,

Mas só a dor respondia, sem cor.

Ela não desiste, mas arde em silêncio,

Perguntando por que o céu não mudou.

Viu meu pai que conhecia o caminho,

Com passos firmes e voz que guiava.

Mas um dia ele parou de subir a escada,

E mergulhou onde a luz se apagava.

Hoje ele vive como quem esqueceu,

O que um dia jurou que jamais deixava.

Não é consolo, não é paz,

É peso, vigília, cobrança.

Um espectro justo que não afasta,

Mas não me livra da esperança.

Caem demônios à sua presença,

Mas ele nunca sorri.

Ele caça, ele julga, ele pressiona —

E me obriga a resistir.

Porque desde que senti seu olhar,

Não pequei sem me odiar por dentro.

E o que antes era prazer e fuga

Hoje é espinho cravado em lamento.

-Eduardo dos Santos. Ignis Animum. 11.07.25