A CASA DOS SENTIDOS

Sezar Kosta

Entre as frestas do silêncio aberto,

guardo um espaço onde o vento não mexe,

um santuário de pausas e suspiros,

onde os sentimentos são livros abertos —

páginas delicadas, que o acaso respeita,

não rasgam nem mancham o que é guardado.

 

Há um aroma de café que nunca finda,

uma cadeira vazia à espera de passos suaves,

luz que dança nas paredes como segredo tímido.

Os quadros respiram sem mãos que os toquem,

exigem cuidado — um gesto leve, quase silêncio,

que não apague o pó antigo nem os risos soltos.

 

Se alguém entrar, que traga a leveza da brisa,

não o vendaval que desarruma o coração.

Sentir é um gesto frágil, equilíbrio tênue:

abrir a porta e deixar a alma exposta,

sem perder o abrigo que me é sagrado.

 

Permitir que entrem, convidar a presença,

mas não a invasão que derruba muros,

nem a tempestade que afoga a calma.

Sentimentos são casas de vidro —

transparência frágil que não suporta o descuido,

nem a mão que transforma abrigo em ruína.

 

Venha, mas traga a gentileza no passo,

deixe as pegadas limpas, a porta entreaberta,

e café na cafeteira para o tempo insistente.

Não peça licença para bagunçar o sagrado —

aqui, o coração é silêncio respeitado,

poesia guardada em um frágil altar.

  • Autor: Sezar Kosta (Offline Offline)
  • Publicado: 8 de julho de 2025 22:54
  • Comentário do autor sobre o poema: Sentir é habitar um espaço delicado, onde a alma se oferece em transparência — um convite para quem sabe chegar com suavidade, respeitando o silêncio sagrado que guarda o coração.
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 18
  • Usuários favoritos deste poema: Sezar Kosta, Luana Santahelena, Elfrans Silva, Spell mesclados, Melancolia...
Comentários +

Comentários1

  • Shmuel

    ...."Venha, mas traga a gentileza no passo"...

    Que lindo amanheci com este agradável poema!

    Abraços!



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