A Odisseia do Homem Real
A ideia de ser autêntico soa legal,
mas como poderemos fugir dos julgamentos?
Vivemos sob o peso dos olhos alheios
espelhos que não nos refletem,
mas que moldam.
Ser autêntico, nesse mundo de formas pré-fabricadas,
é escolher o risco da rejeição
sobre o conforto da aceitação vazia.
Confuso,
meus atos destoam do geral.
Sob a lente do comum
é avistado um louco.
A normalidade virou um tipo de máscara aceita,
e todo aquele que escapa dela
vira ameaça.
Me rodeiam com argumentos tão reais
que beiram a solidão
essa solidão que é o preço pago
por quem ousa não caber.
E assim me coloco tão fundo
que só lembro meu nome.
Talvez, nesse esquecimento de mim,
eu me torne o que esperam.
Talvez assim possamos ser idealizados como algo bom?
Um ideal sem verdade,
uma imagem que não sofre fraturas.
Na vontade de ser real,
cavo minha cova
e me enterro lá fundo,
aonde ninguém me toca.
Tocar no mundo exige exposição.
Mas ser tocado pode ser ferida,
e por isso escolho o escuro.
Ali, o silêncio me guarda,
e a ausência me protege.
Como um escravo do alheio,
me olho no seu reflexo
e sigo suas indicações.
Deixo de ser autor da minha rota
e passo a ser sombra do desejo do outro.
Cavando cada vez mais fundo
para que ninguém possa me odiar.
Talvez, se eu for o bastante invisível,
me deixem em paz.
Talvez, se eu desaparecer aos poucos,
me aceitem.
Me tornando um "homem real",
um daqueles homens que se enterram tão fundo
que só lembram seu nome.
E mesmo o nome esse último traço de identidade
vai ficando mais fraco,
mais distante.
Porque ser autêntico num mundo que lucra com máscaras
é um ato de desobediência,
e às vezes, cansado,
eu também obedeço.
-
Autor:
Andre Matheus (
Offline)
- Publicado: 8 de julho de 2025 01:09
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 4
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.