A ODISSEIA DO HOMEN REAL

Andre Matheus

A Odisseia do Homem Real

 

A ideia de ser autêntico soa legal,

mas como poderemos fugir dos julgamentos?

 

Vivemos sob o peso dos olhos alheios 

espelhos que não nos refletem,

mas que moldam.

Ser autêntico, nesse mundo de formas pré-fabricadas,

é escolher o risco da rejeição

sobre o conforto da aceitação vazia.

 

Confuso,

meus atos destoam do geral.

Sob a lente do comum

é avistado um louco.

 

A normalidade virou um tipo de máscara aceita,

e todo aquele que escapa dela

vira ameaça.

Me rodeiam com argumentos tão reais

que beiram a solidão 

essa solidão que é o preço pago

por quem ousa não caber.

 

E assim me coloco tão fundo

que só lembro meu nome.

Talvez, nesse esquecimento de mim,

eu me torne o que esperam.

Talvez assim possamos ser idealizados como algo bom?

Um ideal sem verdade,

uma imagem que não sofre fraturas.

 

Na vontade de ser real,

cavo minha cova

e me enterro lá fundo,

aonde ninguém me toca.

 

Tocar no mundo exige exposição.

Mas ser tocado pode ser ferida,

e por isso escolho o escuro.

Ali, o silêncio me guarda,

e a ausência me protege.

 

Como um escravo do alheio,

me olho no seu reflexo

e sigo suas indicações.

 

Deixo de ser autor da minha rota

e passo a ser sombra do desejo do outro.

Cavando cada vez mais fundo

para que ninguém possa me odiar.

 

Talvez, se eu for o bastante invisível,

me deixem em paz.

Talvez, se eu desaparecer aos poucos,

me aceitem.

 

Me tornando um "homem real",

um daqueles homens que se enterram tão fundo

que só lembram seu nome.

 

E mesmo o nome esse último traço de identidade 

vai ficando mais fraco,

mais distante.

Porque ser autêntico num mundo que lucra com máscaras

é um ato de desobediência,

e às vezes, cansado,

eu também obedeço.

  • Autor: Andre Matheus (Offline Offline)
  • Publicado: 8 de julho de 2025 01:09
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 4


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