oração de um cão sujo

Willie Stchaikovski

não quero possuir

quero venerar

como quem acende vela

e lambe o chão onde ela pisa

com tesão de milagre

 

sou devoto da nuca dela

dos pelos do braço

da forma como a blusa deixa o peito quase escapar

e como a calcinha marca o jeans

 

cada curva é escritura

cada dobra da pele, profecia

cada riso sem pudor, um convite pra me ajoelhar com a boca

 

ela fala e o mundo silencia

me chama pelo nome

e isso já basta pra me fazer fiel

 

os áudios dela viram salmo pornô

os gestos, altar erguido em motel barato

os olhos: dois buracos negros onde eu deixo minha fé gozar

 

eu não quero carinho

quero ela nua

quero ela de quatro na minha mente

e na minha cama

e no meu colo

com a boca suja dizendo que é minha

 

amo ela com a força de quem se masturba pensando em cada detalhe

com culpa, com pressa, com adoração nojenta

 

não quero que ela me ignore

quero que ela me escolha

quero ser o único altar onde ela se despe sem culpa

quero ser o nome que ela grita sem medo de estar errada

 

ela é templo

é puta divina

é santa que goza no inferno

 

enquanto eu 

sou o cão sujo, tremendo na porta

com o nome dela preso na língua

e a alma lambendo o que sobra

 

sempre dela

até o dia que ela seja minha

  • Autor: Willie Stchaikovski (Offline Offline)
  • Publicado: 7 de julho de 2025 02:04
  • Comentário do autor sobre o poema: E aí, pessoal! Tudo bom? Estou postando os poemas no meu Instagram: @manualquasehomem
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 1


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.