Aproveitem o dia!

Turma de Medicina 2019.1 da Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte.

Cariri em 18 de Janeiro de 2019.

-Turma “Prof. Ricardo Souto Quidute.”

-Ilustríssimo Professor

Diretor da Faculdade de Medicina de Juazeiro do Norte – Estácio-FMJ

Fábio Cardoso

-Ilustríssima Professora Hellen Lúcia Cruz Caldas Lins

Digna Coordenadora do Curso de Medicina da FMJ

-Ilustríssima Professora Camila Bezerra Nobre

Digna Coordenadora Adjunta do Curso de Medicina da FMJ

-Ilustríssimo Professor Johnny Emerson Lima Ribeiro

Patrono da Turma de Medicina 2019.1 da FMJ

Em nome do qual saúdo todos os componentes da mesa.

Ilustríssimos colegas docentes,

Autoridades, meus afilhados e afilhadas, senhores pais e familiares,

Meus Senhores e Minhas Senhoras:

Boa Noite!

Quero expressar o meu contentamento, minha extrema alegria de fazer parte deste memorável dia de suas vidas.

Percebam que em nossas vidas diárias não é a FELICIDADE que nos faz agradecidos, mas, a GRATIDÃO que nos faz felizes (Citação).

A todos vocês afilhados que compõem a Turma M26 recebam a minha GRATIDÃO!

Minha admiração a Estácio FMJ e seu grandioso time pela amorosidade ímpar de caráter educacional levando aos alunos do Ceará e estados vizinhos a educação e oportunidade.

Talvez não seja merecedor de ser lembrado. Mas por ser, me transfere a grata responsabilidade de representar todo o corpo docente de nossa instituição. 

Recebam o meu muito obrigado!

Tenho 25 anos de Médico. Assim, permitam contar um pouco da minha história:

Sou filho de uma professora aposentada de ensino colegial e de um honesto comerciante. Dedicados pais, o que para minha pessoa foi um privilégio!

Nasci em Maio de 1970 no Hospital São Lucas com a ajuda de Deus, sob as bênçãos do Padre Cícero e com os valiosos préstimos do exemplar e saudoso Dr. João Tavares Neves. Falecido recentemente aos 84 anos de idade, destes, 54 anos dedicados a Medicina.

Dr. João Tavares Neves foi formado na UFPE em 1962 e realizou mais de 50.000 mil partos. Um verdadeiro vocacionado pela sublime arte da Medicina. Trabalhou incansavelmente até 18 de Maio de 2016 sendo um dos responsáveis por fundar o Pronto Socorro de Juazeiro, a Clínica de Reabilitação e Fisioterapia (CREFJU), e posteriormente, o Pronto Socorro Infantil do Cariri (PSIC). Desta feita quero registrar aqui a minha homenagem a este grande nome da Medicina Caririense e a todos colegas médicos no nosso amado Cariri.

Carregava desde o princípio em minha mochila da vida e em meu pequeno, mas sonhador coração, o desejo de ser médico.

Observava atentamente a voz de dos meus familiares mais velhos. Meus avós, pais e tios o desejo de ter na família um médico.

Não por acaso faço este comentário. Mas, para que vocês tenham a certeza do quanto é almejado, fascinante e apaixonante SER MÉDICO! 

Estudando medicina fora do Cariri sempre que eu chegava de férias ao Juazeiro do Norte meu saudoso pai orgulhoso me apresentava para os amigos. E dizia com olhar vibrante:

“Este é meu caro filho”! Está fazendo medicina em Fortaleza! E batia carinhosamente em minhas costas.

Eu, de pronto logo abria um sorriso.

Tempos depois ele me confidenciou que o maior orgulho de um pai: É ter um filho ou uma filha formado(a).

Ser pai de médico, ser mãe de médico!

É singular ! Único!

Mas completou: o “caro” é porque custou muito, mas valeu o investimento! É um feito incomparável! Marcante!

Doravante ao se referir a filho me refiro também a filha dado ao português clássico.

Assim, carreguem em seus diários de bordo os esforços de seus pais e de todos vocês nesta caminhada.

Hoje como pai da Luísa e do Rodrigo. Casado há 15 anos, celebrados ontem, com a minha amada esposa Ludmila, médica e professora desta instituição, temos um sonho de ver nossos filhos médicos trabalhando conosco e a certeza de que tudo que somos devemos a Medicina.

Pincei estes recortes da minha vida pois sei que hoje,  aqui, nesta abençoada noite estão seus pais e familiares também vitoriosos, orgulhosos, fascinados e felizes por ter um filho(a) médico(a). 

É a educação e a formação o maior legado, a maior  herança junto com os ensinamentos de vida.

Durante o descerramento da placa de vocês no Campus Estácio-FMJ vi através da janela da alma atentamente e emocionado os olhares, os abraços, os sorrisos, uma cena repleta de satisfação, de vitória, o feito cumprido.

Um pai de uma formanda chegou e me disse: “Não se faz medicina, se nasce médico!

Confesso que fiquei muito feliz! Encanta-me a cada turma que se forma!

Vi olhos marejados, vi uma vozinha linda e elegante fazendo fotos. Vi mães, vi pais, irmãos, tios, primos, família em uma bela tela da vida.

Vi também um formando com filhinho no braço e o colega de turma de pronto a apoiá-lo naquela mágica cena da vitória como um cuidadoso tio.

A vida é aquilo que acontece enquanto planejamos o futuro! Dizia John Lennon.

Já no filme perfume de mulher Al Pacino falou: em um momento vive-se uma vida!

Ou seja, a construção erguida, pronta de hoje foi fruto de um sonho passado dentro de cada um de vocês.

Assim estamos respirando sonhos e vidas que se eternizam nesta grande noite!

Dia da colação de grau em Medicina de vocês meus queridos afilhados.

Colar grau significa conferir a alguém um título acadêmico. A palavra grau vem do latim – “gradus” – e quer dizer degrau; no contexto universitário, mostra um degrau na escada do conhecimento.

Que na escada de suas vidas galguem degrau a degrau. Não desanimem com as intempéries. Sejam determinados, corajosos pelo bem e para o bem com humanismo no coração, serenidade na mente e confiança no saber. Mas, sobretudo, humildade de entender que cada paciente é um mundo de sensibilidades, e, que, todos os dias somos testados, lapidados e abençoados com a nossa sublime, porém, árdua e difícil arte médica.

Insisto em registrar este dia iluminado de vocês. É marcante, envolvente e eterno como tudo que é bom e faz bem!

Assim, rememoro no dia da minha colação quando o orador da turma meu grande amigo George Jales Leitão nos bastidores da colação me chama e confidencia:

-“Não irei fazer o juramento que o cerimonial me entregou”!

De pronto indaguei: Que houve amigo?

-Ele respondeu:

O momento é por demais grandioso para breves linhas.

Assim, farei o Juramento na íntegra! O clássico, de Hipócrates, datado de 460 a.C. e dotado de grande beleza humana e literária e que expõe os princípios básicos da ética e do comportamento médico.

Mas, por gentileza não comente a ninguém!

E assim foi feito causando “encantamento” a todos presentes sendo um sublime momento.

Como pequena digressão  este marcante ato do colega George foi rememorado aqui no Cariri em 03/08/2018 durante o encontro de 24 anos de formados da nossa Turma de Medicina por ocasião do Projeto Social e Aberto Viva a Vida Cariri ocorrido aqui neste Centro de Eventos com a presença do virtuoso e determinado medalhista olímpico Lars Grael e do iluminado Luiz Gabriel Tiago – brasileiro indicado ao Nobel da Paz 2018.

Nestes encontros de Turma aprendemos também que o amor é capaz de suplantar diferenças, unir almas, ultrapassar o tempo.

Assim, percebam a magnitude desta memorável noite de vocês. Deste belo capítulo de suas vidas!  Que o nobre orador da turma não leia o juramento na íntegra, espero eu!

Mas, que todos nós carreguemos a integridade do juramento em nossas vidas de médicos, nas noites longas de plantões e naqueles dias que conseguimos parecer fazer ter 30 horas e não 24 horas para conciliarmos a nossa missão de SALVAR VIDAS, de CUIDAR.

Que em nossas vidas escrevamos juntos um pequeno tratado de grande virtudes se deixando aprender sempre. Pois sempre temos, e muito, o que aprender dia a dia.

Não por acaso. Não só pelo avanço tecnológico da medicina e suas descobertas diárias, não só pelo paciente ser um mundo de sensibilidades, não só pela doença ser diferente em cada doente. Mas, também, porque há ao redor deste doente (dona de casa, costureira, agricultor, advogado, arquiteto, engenheiro, professor, policial. das mais diversas e sublimes profissões) há uma família, um sol a voltar a brilhar, uma vida a seguir!

‘‘Curar algumas vezes, aliviar muitas vezes, consolar sempre’’.

Segundo o saudoso Professor Dr. Joffre Marcondes de Rezende em sua obra intitulada À sombra do plátano: crônicas de história da Medicina. São Paulo: Editora Unifesp, 2009.

Este aforismo define o compromisso do médico para com os doentes e foi consagrado como divisa da própria medicina. É frequentemente atribuído a Hipócrates (Druss, 2003, pp. 25-26; Goldbloom, 2003). Poderia talvez ter sido inspirado na medicina hipocrática, mas não é encontrado nos livros que integram o Corpus Hippocraticum.

É evidente que, não sendo da época de Hipócrates, o referido aforismo é de data posterior. O apelo ao sentimento piedoso de solidariedade humana como missão adicional do médico nos faz crer na influência do cristianismo. Do mesmo modo que os deuses da mitologia grega foram substituídos por Cristo no juramento de Hipócrates, assim também o médico deveria cuidar dos doentes sem possibilidade de cura (consolar sempre).

Em alguns artigos veiculados pela imprensa médica e em vários textos que se encontram na internet seus autores atribuem equivocadamente a paternidade desse aforismo a autores de épocas mais recentes, tais como Trudeau, Osler, Holmes, Peabody, Nothnagel.

Em conclusão, não se conhece o autor da frase, nem quando a mesma foi usada pela primeira vez. O citado aforismo aflorou naturalmente como síntese da própria medicina e do compromisso do médico para com a humanidade sofredora.

Assim, percebam que a história da Medicina é construída dia a dia por obras, contextos e frases algumas vezes sem autorias definidas, porém, de expressões marcantes e de forte influência na nossa missão como médicos de tal forma que ultrapassam as fronteiras.

Penso que por ser filho de uma dedicada professora me encantei pela difícil arte de ensino, onde tenho a certeza que somos, enquanto docentes, apenas condutores e incentivadores do aprendizado além eternos aprendizes da vida e do tempo.

No prestigioso convite para ser padrinho desta turma especial M 26 tinha o seguinte:

“O paraninfo é o professor a quem incumbe à última lição e o amigo a quem cabe o primeiro conselho”.

Desta feita meus nobres afilhados e afilhadas me permitam:

-Sejam preciosos naquilo que se faz...!

-Acredito eu que o médico é uma ponte para o bem-estar, um instrumento de Deus!

-Devemos ter a humildade de um eterno aluno de mente sempre aberta para o aprendizado!

-Devemos também perceber nossas limitações e a serenidade que veem abraçadas pelo tempo.

Poderia citar vários professores que me inspiraram, ensinaram e motivaram em minha caminhada. Bem como momentos, textos e recortes que também marcaram.

Prof. Otho Leal: O TER passa, é eventual, o SER é perpétuo!

Prof. João Barbosa Pires de Paula Pessoa que com seu dinamismo e paixão contagiante conseguia chegar antes mesmos dos internos e residentes.

Prof. José Milton de Castro Lima e seu carinhoso acolhimento aos seus pacientes.

Prof. Haroldo Gondim Juaçaba quando certa vez perguntaram-lhe se ele durante a prática da medicina já tivera alguma dúvida na tomada de decisão. E ele de pronto respondeu: - Sim, várias!

Indagado sobre o que fez? Respondeu: Fui aos livros para obter respostas, aos colegas também! E quando não as conseguia fazia a pergunta a mim mesmo:

-Que faria se fosse em um familiar meu?

Tive o privilégio de aprender com Mestres, com pacientes, com colegas e com cada um de vocês!

É no cotidiano diário da sublime arte que se aprende!

Certa vez, final de tarde e ainda como interno no Hospital das Clínicas um maqueiro trazia um jovem paciente. Ao seu lado sua mãezinha chorando falava repetidamente:

“Não deixem acontecer com meu filho o que aconteceu com o seu irmão”!

Aquela cena me marcou profundamente. Fui ao encontro do residente de plantão e informei-lhe sobre o paciente que estava sendo internado bem como a frase saída do coração de uma sofrida mãe vendo seu filho gravemente enfermo.

O colega residente muito estudioso pensou: Será alguma doença genética? História familiar? Logo depois fomos ver o jovem paciente. Com alterações neurológicas e ictérico levantou-se a Hipótese de Doença de Wilson sendo a mesma confirmada e o jovem tratado.

Percebam que na grande maioria das vezes é o paciente, é o familiar que sinaliza o diagnóstico! Precisamos apenas estar atentos, escutar, tocar.

Cada vez que nos aproximamos do doente e do seu caso chegamos mais perto do diagnóstico.

É à beira do leito, no consultório, nos corredores da vida, com as queixas e deixas dos nossos queridos pacientes que se aprende.

Existem Aforismas (ou máximas) de ensinamentos que também marcam. Irei citar dois do médico e professor William Osler (1849-1919):

1. A Importância da Semiologia/Anamnese:

“Na anamnese siga cada linha do pensamento, mas não interrogue apenas o essencial; nunca sugira. Leve em consideração as próprias palavras do doente”.

2. Relação Médico-Paciente

 “Nada vai sustentar-te mais fortemente do que o poder de reconhecer na tua monótona rotina, como se pode talvez julgá-la, a verdadeira poesia da vida – a poesia do lugar comum, do homem do povo, da cansada mulher trabalhadora, de seus amores, alegrias, dores e tristezas.” (Aequanimitas; ”Student Life”).

 With  other  Addresses  to  Medical Students,  Nurses  and  Practitioners  of  Medicine  

By Sir WILLIAM OSLER, Bt., M.D., F.R.S.

Late Regius Professor of Medicine, Oxford.

 

Assim meus queridos afilhados: Feliz aquele que se deixa aprender!

Outro conselho:

Façam amizades sólidas, profícuas! Feita a de Osler e Halsted.

Meus nobres alunos à partir desta data vocês serão responsáveis pela transformação!

Sigam com romantismo a sublime arte, com a resiliência e com a compaixão!

Digam não ao inconformismo e transformem as próprias

Vidas e as vidas dos que os rodeiam.

Para finalizar:

“Há quem diga que todas as noites são de sonhos. Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.” (WILLIAM SHAKESPEARE, Sonho de uma Noite de Verão).

Congratulações a todos e aproveitem o dia (Carpite Diem!)!

Gratidão!

Roberio Motta

Paraninfo Turma M26 – FMJ em 18 de Agosto de 2018.