Arquitetura do Erro

Anna Gonçalves

Penso que... O erro não destrói.
Mas ele me constrói.
Às vezes com uma violência fatal,
às vezes com silêncio intimista, 
mas sempre proposital.

E quando algo se atravessa no caminho,
tem um estrondo,
tento um desvio,
tenho um desconcerto.
Minha construção treme,
mas não cai.
Ou até cai, mas ali começa outra.
E o que eu achava que era o fim,
era apenas aqueles três pontos no final da frase...

Aquela pausa necessária
para  que eu respirasse diferente,
para que eu olhasse de outro ângulo.
E ver as divergentes...

O erro não foi um acidente.
Faz parte da arquitetura.

Cada falha, uma fresta,
por onde entrou uma certa luz.
Ou vento.
Ou dor.
Mas entrou.

E ao entrar, moveu.
E ao mover, me moveu.

Já tentou evitar o erro?
Evitá-lo é um erro!
Controlei passos, revisei decisões,
programei o imprevisível.
E mesmo assim ele veio,
                         [e que sorte eu tenho]
caracterizado de escolha,
de amor mal medido,
paixões indecisas,
amores que achamos que 
são pro resto da vida,
de pressa ou de ausência.

E quando veio,
eu quis voltar ao começo.
Mas nunca era começo.
Era o mesmo caminho,
com outra visão.
Com outro eu.
E com outras tomadas de decisões...

Falhe, sim! Falhe!
Erre!
Mas veja o que nasce...
quando tudo o que resta
é você mesmo, em ascensão.


E o erro já me desfez 
e ao me desfazer,
me deu a chance
de fazer de novo e de novo...

O erro me refez.
O erro te refaz...
Me rasgou para que eu pudesse caber.
E me ensina ainda,
sem pressa,
sem perdão,
mas com verdade e precisão.

O erro é construção.
Não um desvio da caminhada,
e que faz  parte do chão.
É o barro que a vida
usa pra moldar o humano.

  • Autor: Anna Gonçalves (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 3 de julho de 2025 13:30
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 3


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