Penso que... O erro já não me destrói.
Mas ele me constrói.
Às vezes com uma violência fatal,
às vezes com silêncio intimista,
mas sempre com propósito.
Quando algo se atravessa no caminho,
há um estrondo,
tento um desvio,
tenho um desconcerto.
Minha construção treme,
mas não cai.
Ou cai, e ali começa outra.
E o que eu achava que era o fim,
era apenas aqueles três pontos no final da frase...
Aquela pausa necessária
para respirasse diferente,
para que eu olhasse de outro ângulo.
O erro não foi um acidente.
Foi parte da arquitetura.
Cada falha, uma fresta.
Por onde entrou luz.
Ou vento.
Ou dor.
Mas entrou.
E ao entrar, moveu.
E ao mover, me moveu.
Já tentou evitar o erro?
Evitá-lo é um erro.
Controlei passos, revisei decisões,
programei o imprevisível.
Mas ele veio mesmo assim,
caracterizado de escolha,
de amor mal medido,
de pressa ou de ausência.
E quando veio,
eu quis voltar ao começo.
Mas nunca era começo.
Era o mesmo caminho,
com outra visão.
Com outro eu.
Falhe, sim! Falhe!
Mas veja o que nasce...
quando tudo o que resta
é você mesmo.
Ele já me desfez
e ao me desfazer,
me deu a chance
de fazer de novo e de novo...
O erro me refez.
O erro te refaz...
Me rasgou para que eu pudesse caber.
E me ensina ainda,
sem pressa,
sem perdão,
mas com verdade.
O erro é construção.
Não um desvio da estrada,
mas parte do chão por onde caminha.
É o barro que a vida
usa pra moldar o humano.
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Autor:
Anna Gonçalves (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 3 de julho de 2025 13:30
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 2
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