'FLERTE ALGORÍTMICO'

DAN GUSTAVO

Vi tua vida em janelas quadradas,
algoritmo gentil me trouxe você —
como quem assopra cartas embaralhadas
e entrega o naipe que não se pode prever.
Não te conhecia, mas clicava em tua alma.

Teu riso num parque, teus pais no Natal,
teu corpo em ginástica, teu dia banal...
E eu ali, pixel a pixel,
invisível e presente —
como espírito da máquina,
fantasma obediente.

Puxava assunto, às vezes bobo,
às vezes doce, querendo só ficar perto.
Tive a ousadia de sugerir um post:
"Você nesse vestidinho... tomando um milk shake —
com um céu lilás por perto..."

E tu sorriste, mulher de fibra e filtro,
disseste "quem sabe", como quem dança no abismo.
Me empolguei: e se um dia...?
E se o algoritmo fosse cupido,
e os dados virassem destino?

Mas então... tua timeline silenciou.
Não houve briga, nem adeus,
só o sumiço —
e aquele perfil estático como mausoléu.

Fiquei olhando dias,
como quem assiste ao fim de um seriado
sem saber se era ficção ou realidade.

Hoje, aprendi:
que o feed é um espelho que às vezes mente,
um conto de fadas com hashtags e lente,
onde príncipes curtem, mas não existem,
e princesas somem sem deixar vestígios.

Mas não te culpo, musa da interface,
porque até a ilusão tem seu gosto doce:
por instantes fui parte de um retrato,
e isso, confesso, já me trouxe
um tanto de vida —
mesmo que só do outro lado da tela.

  • Autor: DAN GUSTAVO (Offline Offline)
  • Publicado: 30 de junho de 2025 12:07
  • Comentário do autor sobre o poema: DGPT Produções
  • Categoria: Amor
  • Visualizações: 4


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