Meu precioso horário de almoço.
Por anos, trabalhando nesse ambiente, não o valorizava.
Trocava vinte, trinta minutos de pausa por hora extra, por dinheiro, por peças.
Achava que estava ganhando, até perceber o que perdi:
tempo, presença, saúde.
Hoje, o intervalo é outro.
É comer devagar e sentir a comida se transformar em energia.
É deixar o corpo digerir em paz.
É sentar ao sol em um dia frio, fechar os olhos e permitir que o mundo desacelere.
Porque sensações também são poemas —
e há poesia no silêncio de existir com atenção.
Sinto minha respiração se misturar à fumaça do cigarro —
ela entra, aquece, sai —
e com ela, vem uma tranquilidade que não sei explicar.
O calor bate no lado direito do rosto,
mais forte ali, talvez porque foi o lado que mais precisou de abrigo.
A cadeira em que me sento ficou no sol a manhã inteira.
Está quente, acolhedora, como um abraço que não exige palavras.
Fecho os olhos.
E escuto.
Não o barulho do mundo — ainda não —
mas os sons internos, os que a gente quase nunca para para ouvir.
O estômago trabalhando,
o ar entrando e saindo,
a barriga subindo e descendo,
como se cada movimento fosse um lembrete de que estou viva.
Por um segundo, sinto até o sangue correr nas veias.
É como se o corpo me contasse histórias
que só podem ser ouvidas no silêncio.
A mente se aquieta.
E nesse vazio bom,
o mundo de dentro se amplia.
Aos poucos, o lado de fora volta.
O estalo dos ar-condicionados lá fora,
um passarinho solitário cantando,
os carros deslizando pela rua,
os passos de pessoas apressadas,
e outras, como eu, que talvez tenham parado um pouco para sentir.
Sentir o sol bater, o vento tocar,
o tempo passar sem pressa.
Cada uma com sua história,
suas urgências, suas pausas,
sua forma particular de se deixar atravessar pelo instante.
Mas, por um breve momento,
quase como um segredo compartilhado,
parecemos unidas pelo simples ato de parar —
e apenas estar.
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Autor:
Thami (
Offline)
- Publicado: 27 de junho de 2025 11:57
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 3
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