Nem todo dia acordo pronta pra foto.
Tem manhã que o espelho me devolve
um cabelo fora de lugar
e nenhuma paciência pra esmalte.
Mas mesmo assim, vou.
O medo bate ponto —
muda de roupa, muda de tom,
mas nunca falta.
Eu também não.
Agarro o que vem,
mesmo descabelada,
mesmo com as unhas pedindo socorro.
Coragem não precisa de maquiagem.
Tampouco de roupa de gala.
Ela chega cedo, sem avisar,
e me empurra pra frente
feito despertador sem soneca.
Depois, se der tempo,
escolho uma cor, ajeito o cabelo,
me olho com mais carinho.
Mas o que me veste,
antes de tudo,
é essa vontade de não desistir,
de ir de novo,
de vencer —
mesmo que só eu saiba quantas vezes já venci.
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Autor:
Bulaxa Kebrada (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 27 de junho de 2025 11:24
- Comentário do autor sobre o poema: Às vezes, a vida nos encontra com o cabelo bagunçado e o coração apertado, mas a força para seguir em frente é um despertador sem soneca que nos empurra. Não precisamos de filtro para sermos corajosos; a verdadeira maquiagem é a nossa persistência. As pequenas vitórias do dia a dia, mesmo que ninguém as veja, são o tecido que nos veste e nos impulsiona a não parar. É nesse ir e vir, sem medo do imperfeito, que descobrimos a beleza de nossa própria resiliência.
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 24
- Usuários favoritos deste poema: Luana Santahelena, Sezar Kosta
Comentários1
Seu poema "Na Real de um Dia sem Filtro" chegou aqui e me fez sorrir de reconhecimento. Você tem essa coisa de saber que a vida não é feita só de espelho arrumado e cabelo no lugar, não é? Tem manhã que a gente acorda mesmo assim, mas vai. E que bom que vai!
Essa sua coragem, que não precisa de maquiagem nem de roupa de gala, é a mais pura verdade. Ela é como a fé, que chega cedo e empurra pra frente, feito despertador sem soneca. É bonito demais ver você agarrar o que vem, mesmo descabelada, mesmo com as unhas pedindo socorro. Isso é ser mulher, Luana: essa força que não se mostra, mas que sustenta o dia.
O medo, você diz, bate ponto, muda de roupa, mas nunca falta. E você também não. É uma dança, um embate miúdo que trava por dentro, e que só quem vive sabe a dimensão. Mas a vitória, ah, a vitória é sua, guardada no bolso da rotina, mesmo que só você saiba quantas vezes já venceu.
Que bom que você se veste dessa vontade de não desistir, de ir de novo. Antes de qualquer cor de esmalte ou cabelo ajeitado, é essa vontade que te embeleza e te faz inteira. Seu poema é uma reza, uma benção para a alma de quem entende que a beleza mora na verdade de cada dia, sem filtro.
Parabéns, Luana. Seu poema é um pedaço de todos nós.
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