Juliana Marins

Maiza Chagas

 

Foi sozinha. Como muitos irão. Juliana Marins não teve plateia, câmeras, flores, mãos apertadas. Morreu no silêncio surdo da borda de um vulcão, a poucos passos de um céu nublado e um chão em brasa. Em 20 de junho, durante uma trilha noturna no Monte Rinjani, Indonésia, ela escorregou em uma encosta e despencou cerca de 300 metros. Ficou à deriva pela cratera, deslocando-se até 500 metros penhasco abaixo, isolada por 4 dias, sem água, comida ou abrigo. Nenhuma despedida, nem abraço. Apenas o eco dos próprios sonhos, o vento rasgando a alma, o frio queimando a pele, e um último olhar sem testemunhas. Seu nome comoveu o mundo, mas sua dor não coube nas notícias. Porque a morte é isso: a mais íntima das solidões. A mais democrática das visitas. A mais cruel das interrupções.

“Deus meu, por que me desamparaste?" (Mt27:46). Gritou Jesus. Não por fraqueza, mas para nos ensinar a nomear o abandono. Pois o Calvário não foi apenas a cruz fincada na terra. Foi um altar de silêncio, uma prova de que até o Filho clamou no escuro. E se até Ele chorou por presença, quem somos nós para fingir que não tememos a ausência? A morte não marca horário. Apenas chega. Às vezes devagar, como o vento gelado de um vulcão.

Mas há consolo. Porque mesmo os que partiram em silêncio, dormem. Não vagueiam, não observam, não flutuam. Dormem. Como Lázaro em sua caverna (Jo11:11). Como Davi no túmulo (At 2:29). Como Adão no pó. Como Juliana naquela encosta inacessível que ninguém sabe onde seus últimos pensamentos visitaram. Dormem com o corpo vencido, mas um céu prometido. Porque o mesmo Cristo que gritou sozinho, voltará triunfante. E chamará cada nome. Um por um. Em alta voz. E os que dormem ouvirão.

Até lá, vivamos de modo que nossa última viagem seja apenas um intervalo. Amemos de forma que nossa ausência deixe legados. Creiamos que nossos túmulos sejam só travesseiros de terra aguardando o clarim. Que sejamos encontrados firmes, fiéis. Porque a vida com Deus é tão forte que transforma até o fim em começo. A esperança arrebata. A saudade traz reencontro. A lágrima acende a eternidade. E a dor será sempre mensageira da ressurreição.

Em breve.

Escritor : Odailson Fonseca

  • Autor: Maiza Chagas (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 26 de junho de 2025 11:47
  • Comentário do autor sobre o poema: "Até lá, vivamos de modo que nossa última viagem seja apenas um intervalo."
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 4
  • Usuários favoritos deste poema: Melancolia...


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