América

América eu te deu meu CPF e agora sou só estatística.
América R$ 7,89 no litro do leite 12 de junho de 2025.
América o Estreito de Ormuz tá entupido de tensão e petróleo.
América, Irã e Israel brincam de apocalipse e eu pago mais caro no motorista.
América você me prometeu paz e me entregou barril a 130 dólares.
América não aguento mais a bolha.
América quando é que a gente vai dar um jeito nessa polarização?
América o Rio Grande do Sul está debaixo d'água. 146 cidade alagadas, quatro mortos, milhares sem casa, e não foi a pior onda que inundou o nosso terraço. o Guaíba virou espelho de tragédia. E eles aqui com fotos românticas sobre a chuva.
América a Defesa Civil tenta notificar mas eu ignoro.
América o Norte seca enquanto o Sul afoga.
O Semiárido racha, o Amazonas some. 
A estiagem virou rotina, e o solo virou pó.
América o café tá R$2.200 a saca e ainda amarga. 
A safra caiu, o clima triturou as floradas. O produtor chora, o consumidor chia.
América, até onde o café tá ansioso?
Eu o bebo com minha languidez mas ele me deixa com sono.
América para onde foi minha lucidez?

América não aguento mais as notícias de tragédias e dancinhas e massacres e separações.
América quando é que vamos parar de matar pretos nas periferias?
América vai se fuder com sua PM que atira duas vezes antes de perguntar.
Não, não estou bem, não estou bem não, estou no beco da desolação.
Não me mande mais notificação.
Não escreverei mais poemas para Rosa ou Graça enquanto você estiver dando cabo da Consciência.
América quando você vai parar de fingir que se importa?
América quando você vai parar de fingir que se importa com os jovens amores desiludidos?
América quando você vai parar de fingir que se importa com os idosos?
América quando você vai parar?
América quando vai olhar nos olhos das favelas?
América quando você vai olhar nos olhos dos rapazes de classe média?
América quem está de fato sofrendo?
América o que é sofrer na américa?
América quando vai parar de chamar de vagabundo quem grita por justiça?
América quando vai parar de liberar indigentes golpistas?
América o que é justiça?
América quando vai entender que "Todas as formas de vida importam" não é só protesto?

América por que seus presídios estão cheios de inocentes e seus condomínios cheios de escrúpulos?
E o velho poeta russo, porque Ela leu o russo e ele também, O russo disse que a falta de liberdade não consiste jamais em estar segregado, e sim em estar em promiscuidade, pois o suplício inenarrável é não se poder estar sozinho.
E inconscientemente todos os detentos da Sibéria à Amércia sofrem em promiscuidade, bem mais do que sozinhos com seus devaneios ilimitados.
Onde fica essa tal de liberdade?
Eu não quero ser livre! Quero estar acorrentado aos pífios prazeres passageiros
Fugazes amores estrangeiros
Efemeridade! Efemeridade! Mas a Graça não veio.
América quando é que vai trazer a verdadeira Graça na minha frente?
América você não sabe viver.

América quando vai mandar vacina pras aldeias e não só pra capital?
Ninguém quer tomar vacina nas capitais e os indígenas segregados pelos nossos pais não sabem o que é cura. Mas que cura?
América quem está curando?
Tô cansado das suas metas e objetivos em PowerPoints.
Quando vou poder entrar num hospital e ser atendido sem plano de saúde e sem rezar?
América no fundo. 
América, no fundo, eu e você somos o mesmo caos.
Caos não gosta de esperança.
Caos não gosta da Graça.
Seus sistemas são demais para mim.
Você me faz querer vomitar a minha vã filosofia cínica escalpelada.
Deve ter algum veneno para curar essa américa.

América os bilionários se esqueceram de marte, e aqui há pessoas brigando por arroz.
Você está sendo cruel novamente? 
Estou tentando compreender os algoritmos das IAs.
Me recuso a deletar meus ideias. 
Minhas ideologias.
América para de me empurrar pra produtividade, eu estou exausto.
Exausto!
América os jacarandás estão florindo e ninguém repara.
Faz meses que não termino um livro.
Graça leu todos em meio-ano de vida.
América todo dia alguém é linchado nas redes sociais.
Que se danem as redes! Redes de aranhas pestilentas.
Redes de cadáveres mórbidos e sórdidos e irresponsáveis e indeléveis. 
América ninguém fala nada com nada.
América meus contemporâneos estão condenados.
América fico nostálgico com suas tecnologias arcaicas e suas músicas e filmes.
América eu era a Inocência de Blake quando jovem e agora sou beat comunista.
Eu não sei o que é ser beat ou comunista!
América há petições pelo incorreto sendo leiloadas pela globalização.
América cada um escolhe a sua sina.
Qual é a tua?
Fumo angústias Graciosas toda vez que posso, todas as noites até o corvo começar a cantar.
Fico em casa dias seguidos pelo frio, a luz azul negra me encara pensando na próxima palavra para contar sobre Ahasverus e W. sem nome e Avery e outras histórias que não serão Eternizadas.
Quando vou à cidade passo reto por quem pede ajuda.
Quando vou à escola passo reto por quem pede ajuda
Quando entro pela porta da sala passo reto por quem não dei bom dia.
América eu causei-lhe. Teu ódio é por minha ausência de saudações matutinas.

Você devia ter me visto defendendo a esquerda e reclamando no dia seguinte no grupo da família, estávamos felizes.
Meu Terapeuta, BD, acha que eu preciso de menos pessoas. Preciso de mais livros.
Não direi amém ao coach de palco.
Tenho visões de um mundo injusto.
Acordo e vejo um mundo injusto.
Ah! Vida real.
Acordei em um mundo marginal.
Acordei com a terceira guerra mundial.
Tenho visões de minha cidade construída por mãos de poetas, jardineiros, filósofos, professores, artistas, arquitetos, carpinteiros, engenheiros, cientistas, Letristas.
Uma cidade verde, onde o jovem extasiado pudesse arrefecer a sua alma pós aula escrevendo poesias para sua graciosa amada e então mudar os rumos de uma cidade pela Eternidade dos versos.
Mas minha cidade é desolada. Minha cidade não é mais do que passagem. Minha cidade não é mais do que cidade. 
Passos vêm e passos vão.
Mas ninguém deixa outros caminhos pelo chão.
América tô falando com você.
América não te contei em quem eu votei.
América você vai deixar que sua alma seja moldada pelas redes sociais?

Tô viciado em indignações e contrários.
Vejo manchetes todos os dias todas as horas de meus dias, só há mais assassinatos e morticínios e feminicídios e homicídios e regicídios e fratricídios.
As luzes trêmulas azuis me convocam para não perder nada sempre que me sento para ler.
Leio G1, BBC, CNN, UOL como se fossem oráculos.
América em quem vou confiar para me entregar as verdades?
Eu sei que são as verdades, mas e aqueles que dizem que a verdade é uma mentira bem contada? 
Quais verdades mentirosas devo contar para essa gente estúpida parar de me incomodar?
Sempre leio o hoje pensando que amanhã será diferente.
No entanto, os boletos são reais.
As causas também.
Todo mundo é um boleto, menos eu.

Me passa pela mente que eu sou América. 
Tô de novo falando sozinho.
A desigualdade é ultrajante dentro de mim. 
Não tenho nenhuma desculpa convincente.
Não sei o que estou lendo.
Não sei dar às graças o que estou lendo.
É melhor eu revisar meus princípios.

Meus recursos internos consistem em 12 livros, uma indignação reciclada, poetas malditos, gerações perdidas mais honráveis do que esta, 2 litros e meio de café ao dia, um diário de mola, papéis avulsos de conhecimento grudados com fita barata na parede do meu quarto e 25 abas abertas para resolver três artigos científicos sobre convergências entre EUA & Brasil, Guerra Israel-Irã e como mudar o mundo com Dylan.

Não recito minhas contradições ou dos milhões que cativo.
Baniram o silêncio, mas o vazio continua.
Ambiciono a coerência apesar das minhas sinapses.
América como vou escrever minhas poesias nesse mundo vil e desprezível?

Continuarei como um influenciador de mim mesmo.
Eu sofro de vários Outros.
Eu tenho platitudes.
Eu contenho multitudes.

América te vendo minha culpa por um pouco de paz.
América salva os jovens de classe média que ainda acreditam. 
América dizer que gostou não basta.
América eu sou jovem que não se expõe mas ainda assim esquece.
América eu tinha treze anos quando meus pais me levaram à Sujeira, e as 7 notas Eternas ribombaram como flama pungente em minha alma, e desde aquele dia eu não sei o que é olhar nos olhos graciosos. 
Hoje entendo tudo e não faço nada.

América você deveria ser mais honesta consigo mesma.
América a verdade é que eu também não quero mudar.
América eu sou o algoritmo que te prende.
Sou eu que passo reto.
Sou eu que espero que alguém dê a iniciativa em mim.
Sou eu. 
Sou eu. 
Sou eu.
América, Graciosa América! Sou eu.