Poe$ia de puta$

A cada dia sou mais perfeccionista

A cada rima escrita no papel perde-se um tempo de vida

É cedo ainda pra falar se eu vou pro céu ou pro inferno

Mas se eu parar pra pensar mais um pouco fico a fincou preso entre paredes e ferros

O ouro do garimpo vira tecido pra ternos

Enquanto subalternos do eterno destino se livram do parasita de ser sincero

Seres vivos mais mortos que corpos são detidos

Enquanto o ciclo infinito do capitalismo é implantado no nosso cerebelo

Saiba que não serei belo

Ao reclamar que o mundo não passa de um eterno zero a zero

Me chamam de um menos que zero

E gastam mais de cem zeros atrás do um

É triste ver a existência

E o pior é que eles nem quiseram

Não opinaram, não participaram

E morrerão sabendo que devem a próxima vida ao estado

Nosso tempo de vida é tão curto que aproveitá-lo é extremamente caro

A clara do ovo tem menos gosto

É a maior parte, é claro

Eu nasci branco

Não tenho lugar de fala, por isso que eu falo

"A ignorância é uma benção"

Mas eu sou bem são e azarado

Meu pensamento veio implantado

Sou um defeito fabricado

Minha mente é o que me faz condenado

Onde já se viu um garoto tão sensibilizado

Com a morte de milhares

Mesmo que não sejam seu dias que estão contados

Eu faço um rap menos pop e sou branco

Enquanto tem uns nego que carrega aquela bandeira e uma glock

Faz música sobre putaria e droga

Ganha milhões estudando um quarto do que estudo

E no fim do som ainda diz que o rap love

Mas quem vai querer saber o que penso, não é mesmo?

Afinal, eu ainda tô no meu começo

É que eu explodo na caneta

A raiva é minha gasolina

Mas quando eu tô elétrico

A única coisa que me alimenta é rima

Me deixe no chão, com fome e frio

Mas não me tire a rima

Pois sem ela eu não seria nada

E cê deve achar que é mentira, mas lágrimas desenharam palavras em meio a madrugada

Sou apressado mesmo

Pra não pensar muito

Senão suicído-me

Ao lembrar de como está o mundo

O Hip-hop virou hip-puta

Se vendeu tanto que hoje até o pop tá mais na labuta

E eu trancado no quarto com quatro estrofes escritas

E meu sonho ganhando vida

Porque não sei viver sem fazer poesia

O meu pulmão já não aguenta mais

Que nem o da terra, mas com ela não dá pra voltar atrás

Vão reclamar que não tem um beat muito bom

Mas o importante pra prestar atenção é a letra

Não sou mc rico de poesia acústica

Que não lembra o que é uma caneta

Não tô desmerecendo o corre deles, a sua luta

Mas parece que esqueceram como no início a vida era dura

Parecem trás mundos diferentes

O do rapper que dá trabalho

O do rapper que trabalha

E o do rapper que é hypado

Sem nunca ter passado mal-bocado na vida

Gasta tudo em cocaína e diz que é pobre

E dá a desculpa aos pais que poesia é linguagem culta

Isso não é música

Isso são as lágrimas de um cara

Que carrega a culpa da morte de milhares

E não pode fazer nada