Nem Deus, nem bandeira.. Só a Fome de Poder

Anna Gonçalves

Os gabinetes têm paredes grossas,
vidro à prova de balas e silêncio dourado,
onde homens com ternos de cifras
movem exércitos como peças de xadrez.

E os peões? Os peões são sempre de carne, nunca de marfim
Interesses estratégicos, palavras limpas para mortes sujas.
Petróleo disfarçado de liberdade, sanções que estrangulam crianças,
tratados assinados com tremor de fome.

Mapas riscados a sangue e tinta,
erguem-se bandeiras de sangue nas mãos,
tantas mãos que constroem, tantas que apontam,
tantas bocas que falam, mas ninguém ouve mais.
                                     [Ajoelhar no chão,  já não adianta mais]
Os misseis avançam, iluminam os céus,
sobre ruínas antigas, um passo para dizimar o mundo,
pisam ossos de impérios, de crenças, de rezas, de pó.
Quem lembra os nomes dos que ali caíram?
São números agora, nem carne, nem voz.

E quem paga a conta? Os de sempre...
Os sem rosto, os sem nome, os que não aparecem
nos gráficos de crescimento.

"Deus está conosco!" gritam de ambos os lados,
enquanto as crianças, sob escombros, choram.
                                        [de uma guerra sem lógica]
E a fome? Não dói no estômago, dói no osso!
Que divindade habita este fogo cruzado?
Que aliança sagrada justifica a hora?

A História que serviria para não repetir o mesmo erro, 
Vira um guia para repetir os mesmos versos trágicos
um povo que sofre, outro que diz AMEM.
E no meio, o abismo frio, ilógico
onde todos perdem e ninguém vence além.

Mas o homem, sempre sedento, ergue seu cetro de ferro,
e julga-se dono da terra, do mar, planetas e estrelas.
Hierarquias de horror, pirâmides de guerra,
oprimem o fraque, mandam o forte matar.

"E quem então?
                                  [pergunta de joelhos sobre os escombros que sobrou da destruição}
enquanto os tiranos assinam seus decretos.
Os "engravatados" de hoje são os vermes de amanhã,
                                  [que sempre se alinha a religião]
e o sangue secou nos mesmos alfabetos.
Quando um país vira "zona de risco",
seus habitantes viram números?
Quando a moeda cai, quem apanha é a carne,
nunca o sistema!

Se olhássemos para além das fronteiras,
veríamos que a vida, por mais breve que seja,
vale mais que dogmas, que ouro ou céus.


Pois no fim das batalhas, quando o silêncio voltar,
restarão só os mortos e perguntas no ar.
Do que adiantou escravizar, maltratar e matar?
Até os impérios mais altos têm pés de silício.
E um dia, quando as paredes caírem,
veremos que o rei nunca esteve nu 
sempre vestido com o sangue dos outros.

  • Autor: Anna Gonçalves (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 15 de junho de 2025 20:16
  • Categoria: Sociopolítico
  • Visualizações: 3


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