Eu tentei ensinar uma máquina a fazer poesia.
Seu refinado algoritmo demonstrou
uma dificuldade sistemática
para entender aspectos muito precisos
da linguagem expansiva que tem a poesia.
Como, por exemplo,
o abismo que mora entre o sapo e o umbigo,
(matéria de quase toda poesia moderna)
É muito difícil para a máquina teorizar
qual a tangente variável
entre o amor, o amargo, o ambíguo e o amigo.
É muito difícil para a máquina
dizer o vazio que mora entre cada palavra,
costurar um silêncio no outro,
para que ele diga muito mais do que é dito.
É difícil para a máquina fazer
sem saber exatamente o que se faz
até que tenha o fazido
Se tem coisa que é preciso
pele, dente, vísceras, viço
é a poesia.
É muito difícil para a máquina
dizer sem dizer,
saborear as vírgulas,
desfazer a gramática
Eu admito:
talvez agora não seja possível
ensinar uma máquina a fazer poesia.
Tem coisas que exigem estômago
É muito difícil para a máquina
calcular a matemática exata dos passarinhos.
Quem sabe um dia ela chegue lá?
Se a gente que é gente, às vezes, é máquina...
quem sabe um dia a máquina
aprenda o vocabulário das pragas
Aí, então, neste dia...
Ah...neste dia...
Neste dia
A humanidade estará condenada.
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Autor:
Victória Bianca (
Offline)
- Publicado: 10 de junho de 2025 21:46
- Categoria: Não classificado
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