Matemática dos passarinhos

Victória Bianca

Eu tentei ensinar uma máquina a fazer poesia.

Seu refinado algoritmo demonstrou

uma dificuldade sistemática

para entender aspectos muito precisos

da linguagem expansiva que tem a poesia.

 

Como, por exemplo,

o abismo que mora entre o sapo e o umbigo,

(matéria de quase toda poesia moderna)

 

É muito difícil para a máquina teorizar

qual a tangente variável

entre o amor, o amargo, o ambíguo e o amigo.

 

É muito difícil para a máquina

dizer o vazio que mora entre cada palavra,

costurar um silêncio no outro,

para que ele diga muito mais do que é dito.

 

É difícil para a máquina fazer

sem saber exatamente o que se faz

até que tenha o fazido

 

Se tem coisa que é preciso 

pele, dente, vísceras, viço

é a poesia.

 

É muito difícil para a máquina

dizer sem dizer,

saborear as vírgulas,

desfazer a gramática

 

Eu admito:

talvez agora não seja possível

ensinar uma máquina a fazer poesia.

 

Tem coisas que exigem estômago 

 

É muito difícil para a máquina

calcular a matemática exata dos passarinhos.

 

Quem sabe um dia ela chegue lá?

Se a gente que é gente, às vezes, é máquina...

quem sabe um dia a máquina

aprenda o vocabulário das pragas

 

Aí, então, neste dia...

Ah...neste dia...

Neste dia

A humanidade estará condenada.

  • Autor: Victória Bianca (Offline Offline)
  • Publicado: 10 de junho de 2025 21:46
  • Categoria: Não classificado
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