O Peso de Acordar

Eu…
Eu achava que entendia.
Mas a verdade é que só agora enxerguei o que significa “família”
No fogo e no jogo da vida.
Família…
Palavra que deveria significar colo, abrigo, socorro.
Mas que, pra mim, soa como ironia.
Um som vazio ecoando no meio do silêncio de quem finge se importar.

Dizem que família é amor incondicional.
Mas quando o chão sumiu sob meus pés,
Eles não estenderam a mão.
Eles empurraram com força.
Julgam, punem, cospem frases como navalhas:
“É falta de Deus”, “É drama”, “É frescura”.
Como se fé curasse vazio.
Como se palavras curassem feridas que ninguém vê.

Eu não pedi pra jogar esse jogo.
Muito menos pra queimar nesse fogo.
Mas fui jogada sem aviso.
Sem regras.
Sem defesa.
Tive que crescer na porrada.
Engolir o choro, aprender a calar, a fingir força.
A virar adulta antes do tempo.
Antes de entender o que é ser criança.

Cada rodada desse jogo é uma batalha.
Cada faísca desse fogo é um lembrete:
Você está sozinha.
Eles dizem que te amam, mas viram o rosto na tua queda.
Pisam na tua dor, te chamam de fraca,
E ainda esperam que você sorria de volta.

As palavras deles não foram só duras —
Foram cruéis.
Me atravessaram como lâminas frias,
Me moldaram no grito, na humilhação.
Me fizeram acreditar que a culpa era minha.
Que a tristeza era invenção.
Que o sofrimento era escolha.

Mas não era.
Nunca foi.

Eles não fazem ideia do que é acordar todos os dias
Querendo que a vida termine em silêncio.
Não sabem o que é levantar com o corpo presente,
Mas a alma implorando pra ir embora.
Eles chamam de preguiça, de falta de vontade,
Mas é exaustão.
É desespero vestido de rotina.

No fim,
Fui queimada sozinha nesse fogo.
Terminei sozinha esse jogo.
Não porque escolhi,
Mas porque fui abandonada por quem dizia me amar.

E mesmo assim…
Ainda estou aqui.
Talvez em pedaços, talvez em silêncio,
Mas ainda em pé.
Porque no fundo,
Sobreviver foi o único movimento que me restou.