Essa frase "a vida não é justa" é quase automática. Ela escapa da boca de todo mundo quando alguma coisa nos incomoda, quando a gente se depara com o peso do mundo de novo. E a gente sabe, lá no fundo, que não é mesmo. Não é justa. Não tem sido.
O mundo que a gente vive não é justo, não só no sentido pessoal, mas estrutural. Ele é construído em cima de hierarquias tão antigas quanto o próprio tempo. Um sistema onde o poder se concentra nas mãos de poucos, e o resto… o resto vira peça. Peão.
E aí eu penso naquele tabuleiro de xadrez — que na real é um ótimo espelho do que vivemos. Os peões são os primeiros a cair. São os que estão na linha de frente, sem proteção, movendo-se devagar, usados para abrir caminho e defender quem está lá em cima. Não têm força, mas são estratégicos. E no fim, são os que morrem primeiro para manter o jogo vivo.
Se o rei cai, o jogo acaba. Mas logo começa outro — com um novo rei. O povo, no fim das contas, continua sendo peão. E o mais triste é que, muitas vezes, defende o próprio sistema que o suga, que o silencia, que o molda pra servir.
É como se a gente não tivesse tempo ou estrutura emocional, social, histórica para virar rei. E não digo rei no sentido de poder absoluto, mas no sentido de tomar as rédeas do próprio jogo. O sistema nos treina pra obedecer, não pra pensar. E aí tudo que poderia transformar, como a educação, vira só parte do plano — uma engrenagem pra manter a ordem das coisas.
Eles colocam na cabeça do povo o que for preciso pra fazer a estratégia funcionar. Alimentam um ego coletivo ou individual, distorcido, como se fosse alguma salvação. Eu mesma sei que, quando alguém infere meu ego, eu automaticamente já começo a me defender. No fundo, eu sei o quanto ele pode ser traiçoeiro, narcisista e cruel.
E talvez seja justamente isso que eles queiram: um povo esgotado demais pra pensar, ocupado demais pra reagir. Porque enquanto a maioria luta pra sobreviver, uma minoria segue ditando as regras. O jogo continua, e só mudam as peças — nunca o tabuleiro.
E o mais cruel é saber que, mesmo quando o rei cai, o sistema encontra outro pra colocar no lugar. Porque, pra ele, o que importa nunca foi o jogo — é manter o poder nas mesmas mãos.
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Autor:
Thami (
Offline)
- Publicado: 5 de junho de 2025 18:27
- Categoria: Não classificado
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