Trabalho, Sono, Fome: O amor fati dos condenados

Anna Gonçalves

Me deparei com a rotina cansada, pesada, repetida, maltratada.  
Mas quando parava, inválida, culpada,  
sentia o tempo escorrer, sem nada.  

Força do trabalho, moeda trocada..
Vendo o que me falta, compro o que me é dada.  
Como para ter vigor, durmo para levantar,  
trabalho para comer, como para trabalhar.  

E o ciclo se enrosca, serpente engatilhada, sobreviver não é viver, é só uma armadilha.  
Mas se o eterno retorno gritasse na minha alma, se tudo se repetisse, na mesma chama, eu hesitaria? Recuaria?  
Não. Ainda quebrada, ainda distinta entre a sombra e o dia, eu diria sim à luta desmedida.  

Porque no caos que a vida encerra, há um instante em que me encontro e mesmo na roda viva da terra, esse sim é meu único contraponto.  

Afinal, não é no eterno retorno que a grandeza se prova?  
Aceitar o fardo, o eterno torno, e ainda assim escolher a própria prova.

 

  • Autor: Anna Gonçalves (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 4 de junho de 2025 21:14
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 9


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