O tímido e a dancarina

Felipe

O Tímido e a Dançarina

Um conto de desejo sussurrado entre os véus do pudor e da paixão.

 

Ele a viu pela primeira vez numa noite morna de primavera, quando a cidade parecia sussurrar desejos nas janelas abertas. Seu nome era Elias, e vivia entre livros, silêncios e orações mal-acabadas. Um homem de poucas palavras, de coração agitado e olhos que enxergavam poesia nas pequenas coisas.

 

Ela era Aurora. Dançarina de corpo leve e sorriso feroz. Quando subia ao palco, parecia que cada músculo obedecia a uma música secreta, tocada só para ela — e, naquela noite, também para ele.

 

Elias não sabia o que fazia ali. Fora convidado por um colega da biblioteca para ver um espetáculo de dança contemporânea, algo fora de seu mundo regrado e discreto. Mas ali estava ele, sentado na segunda fileira, sentindo a alma balançar com cada giro que Aurora dava.

 

Depois do espetáculo, ela passou por entre o público para agradecer. Quando seus olhos encontraram os dele, não houve fogo de imediato. Houve um silêncio. Profundo, tímido, mas cheio de faíscas.

 

— Gostou? — ela perguntou, com a voz cheia de sol.

— Foi... como ver a alma de alguém dançando. — ele respondeu, sem pensar.

 

Ela sorriu. Ele corou. E ali começou a dança dos dois.

 

 

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Os encontros foram tímidos no início. Um café, uma conversa, um toque acidental de dedos que causava terremotos no peito. Elias, com seus medos e sua gentileza, era um homem que tocava com os olhos antes das mãos.

 

Aurora, acostumada a olhares que despiam sem respeito, encontrou nele uma forma rara de ternura. Algo que a deixava nua de verdade: não o corpo, mas a alma.

 

E então, numa noite de chuva fina, ela o convidou para seu pequeno apartamento.

 

— Quero te mostrar uma dança que nunca fiz pra ninguém — sussurrou, com os olhos firmes e mãos trêmulas.

 

Ela vestia um robe de cetim vinho. Elias entrou com a respiração presa. Ela se moveu com delicadeza, como quem revela um segredo. Cada passo era uma confissão. Cada curva do corpo, um versículo de desejo.

 

Ele, de início, apenas observava. Mas seu corpo o traía com arrepios. Ela chegou perto, segurou sua mão e a guiou até sua cintura.

 

— Você também dança, Elias. Só não sabe ainda.

 

Os corpos se tocaram, primeiro com receio. Depois com necessidade. O beijo veio como chuva em terra seca. E o que se seguiu não foi pressa, mas uma lenta devoção.

 

Ela o despiu com respeito. Ele a tocou como quem lê um salmo sagrado.

Cada gemido era uma oração. Cada suspiro, um versículo de êxtase.

 

Não foi uma noite de acrobacias, mas de descobertas.

Ela, que conhecia o palco, encontrou abrigo no peito dele.

Ele, que sempre teve medo do próprio desejo, encontrou redenção no corpo dela.

 

E quando adormeceram, entrelaçados, o tímido havia deixado de ser só silêncio —

Agora era dança também.

E a dançarina, enfim, havia encontrado um parceiro que soubesse o ritmo do seu coração.

 

 

  • Autor: Felipe (Offline Offline)
  • Publicado: 4 de junho de 2025 10:17
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 8


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