ANJO PROFANO

ANJO PROFANO

Soneto I – Essência

Teu corpo é poesia em essência nítida,
Abstrata como amor, paixão, loucura.
Tuas curvas são heresia bendita,
Que me tira a direção, sem censura.
Teus lábios são amargos em vinho denso,
Com doçura ao fim, como confissão.
Tua pele é escrita, traço imenso,
Retalho em carne, viva composição.
Tatuagens que entoam melodia,
Paisagem viciada, cor e forma.
Teu corpo é arte, é pura sinfonia,
Movimento que o desejo transforma.
É seda viva, gesto itinerante,
Que acende em mim um fogo delirante.

Soneto II – Nudez e Sedução

Tua nudez reflete a luz da arte,
Tudo que tens é pura criação.
Seios, coxas, cabelos — cada parte
Seduz-me sem vulgar, só tentação.
Pescoço e orelhas: notas harmônicas,
Compondo o corpo em doce arquitetura.
És pintura viva, em curvas tônicas,
Prazer que fere e cura sem censura.
Quem me dera tocar essa poesia,
Ser leitor da tua carne, tua trama.
Ó céus, que anjo caiu nesta agonia,
Fazendo dos mortais vítimas da chama?
Tu és pintura de sensualidade,
Que incendeia a alma com intensidade.

Soneto III – Contradição Divina

Mulher, anjo ou Deus? Quem tu serias?
No teu olhar, perdi meu juízo.
Ao ver-te, vivo os pecados e os dias
No paraíso mais doce e impreciso.
Doçura e malícia em combinação,
Ternura e desejo em tua presença.
És poesia viva em combustão,
Feita de gozo, dor, prazer e crença.
Criada átomo a átomo, em delírio,
Por um Deus perverso em seu mistério.
Em ti se cruzam carne, alma e martírio,
Estrela oculta no céu mais etéreo.
És esperança, desejo e perdição,
Constelação de amor e tentação.

Soneto IV – Santa e Profana

Teu corpo é arte, é santa profanada,
Anjo e demônio, num só corpo escrito.
Deusa e anti-deusa, forma encantada,
Poesia viva, desejo infinito.
És o pecado já consumado em mim,
Afundo sem pensar no que virá.
Teu toque me faz criança e homem, enfim,
Na lembrança segura que virá.
Tesão e paixão dançam no teu nome,
És presença antiga em nova chama.
Teu corpo é poesia que consome,
Queima e cura, seduz e inflama.
Obra de Deus ou do Diabo em gozo?
És tudo o que desejo, e me destroço.

L.Dutra