Dizem que há palavras que curam.
Mas e as que cortam?
E as que chegam tarde,
com a dor já seca,
e o coração coberto de musgo?
Fico imaginando o que você dizia.
Se me perdoava.
Se me culpava.
Se ainda lembrava do meu nome
com aquele tremor de antes.
Talvez falasse do dia em que foi embora,
ou de como a chuva caía devagar naquela manhã —
como se até o céu tivesse pena.
Ou talvez fosse só um pedido simples:
“escreve de volta, por favor”.
Mas eu nunca escrevi.
Porque nunca li.
Porque não suportei te ouvir
sem poder responder de verdade.
Hoje, quando a casa silencia,
e só os fantasmas se sentam comigo à mesa,
eu penso:
as cartas que eu nunca li
me conhecem mais do que eu mesmo.
Talvez seja esse o castigo:
viver com as perguntas
que alguém já respondeu.
Em folhas dobradas, esquecidas,
que só o coração reconhece pelo peso.
Um dia, se houver outro lado,
se houver reencontro,
te entrego meu silêncio todo,
feito resposta atrasada,
feito abraço que nunca chegou.
E direi, com os olhos baixos:
“Desculpa.
Eu quis tanto ler...
Mas doeu mais do que eu podia.”
28 maio 2025 (10:13)
-
Autor:
Melancolia... (
Offline)
- Publicado: 28 de maio de 2025 09:13
- Comentário do autor sobre o poema: Um dia, se houver outro lado, / se houver reencontro, / te entrego meu silêncio todo, / feito resposta atrasada, / feito abraço que nunca chegou.
- Categoria: Triste
- Visualizações: 10
- Usuários favoritos deste poema: Melancolia...
Comentários1
Nas cartas não lidas, haverá quiçá, surpresas, que nunca poderíamos imaginar, quando finalmente as lermos.
Vou acompanhando esta viagem muito interessante, amigo Melancolia.
Abraço fraterno.
Verdade meu amigo...
Na real eu ia fazer sobre a que eu não queria ler novamente...Daí saiu essa ai...
Mudei tudo...Mas você conseguiu absorver a essência da poesia.....
Tens o dom...
Abraços;
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.