Curvas

Por vezes, perguntas inundam nossa mente.
“Por que não senti antes?” “Por que perdi tanto tempo?”
Mas a verdade é que o coração não tenta esconder o que sente,
E a mente as vezes demora a notar a importância de um momento.

Dirigindo minha vida, num marasmo tedioso,
Quantas vezes passei por ela sem sequer pensar em testar minha direção,
Num afeto em crescimento por meio de uma amizade.
Nunca havia notado aquelas curvas, nem o descompasso do meu coração.

Esperando o ônibus onde conversas vinham para espantar o tédio
Eu quase não notava a empolgação vir sem aviso
Fazer aparecer a primeira curva era como tomar um remédio.
Pois falando sobre filmes e séries era muito fácil ver aquele sorriso

Após alguns anos, quase que por acaso,
As conversas continuavam eventualmente,
Partilhando paixões e descobrindo afinidades.
A aproximação crescia desenfreada, mesmo que o corpo não estivesse presente.

Então, como em um ataque de oportunidade, um assunto inesperado,
Em um contexto improvável, numa conversa despretensiosa,
Ela me disse que havia se separado.

Então, parado no trânsito, aguardando o esverdear do sinal,
Por uma mágica quase que sem explicação,
Na minha cabeça veio a pergunta cabal:
— Por que não?

Pedi então um encontro, nada muito elaborado,
Só pra retomar a amizade que há muito tempo havíamos deixado de lado.
Mas o destino tem seu senso de humor
E secretamente te reserva momentos,
Pois naquele dia, as curvas daqueles cabelos prenderam os meus pensamentos.

Os encontros ficaram frequentes,
A companhia era sempre aproveitada.
E, ao apresentá-la à família, logo vinha a pergunta:
— É sua nova namorada?

Admito que não queria, mas eu já não mandava em mim.
Vi então que meu caminho solitário estava prestes a ter um fim.
Depois do primeiro beijo, quase como um lampejo,
Nas curvas daquele corpo ficaria preso pra sempre,
A razão do meu desejo.

Para Didra.
Alisson Machado Coelho