POEDRA
( Recortes da biosfera comum a fragmentos autobiográficos de um poeta em seu processo de petrificação social )
Por
José de Souza
Sou vate, sou poeta ou um fantasma à espreita do caminho?
Cumpro minha missão com alegria, pois vou cantando meu hino!
Meus velhos ossos relaxam das agruras de um longo dia!
Meu fluido vital só se alegra quando Calíope me chama à poesia!
Meu ser independe de mim ao misturar-se ao doce lampejo…
Calíope desenha minha sina quando manda seu fiel morcego!
Tomado por um furor que corre pelas veias e coração…
Escuto o estrondo dos arreios prateados da nova revelação!
Com guizos dourados e rédeas enfeitadas vem seu cavalo…
A musa vem até mim para soprar no ouvido tremendo fardo!
Em transe trepidante diante de nebulosa faculdade!
Calíope me revela o que acontecerá no caminho da humanidade!
Assim, viro vate, poeta ou apenas um louco que nada sabe!
Fico tremendo, ó musa, com medo da seta da maldade!
O ser humano é vil e o caso é de assombro com magia!
Mas faço tudo que a musa pediu e jogo para todos poesia!
Quando a musa toma posse do meu ser, sentimento e coração
É como se não houvesse outro dia que substituísse tal emoção!
O medo se apaga e os dias ruins já não me esmorecem mais!
A vergonha da vida cotidiana vai morar com Satanás!
Mas quando a musa vai embora, sou tomado de frenesi e névoa!
Minhas fraquezas são alimentadas pelo lobo voraz que me cerca!
Mas na mão, tenho a revelação da musa feita à humanidade!
Corro, assim, o mundo para que todos saibam da recente claridade…
*
Apenas cinco coisas no mundo
já fariam uma grandiosa ponte
para luzir no carma profundo
Desse pálido e débil horizonte:
1.Que todo advento de beleza
Em toda parte, em todo lugar
Jamais venha com vil soberba
Nem arrogância para respirar
2.Que as nossas expectativas
Não sejam jogadas ao deus dará
Não sejam falsas expectativas
E nem ignoradas por seu luar
3.Que a lâmpada ilumine bem
Não falhe na hora mais cabal
Ilumine forte onde mais convém
onde mais tem que luzir o mal
4.Que nossa aflição seja relevante
Que tenhamos um pouco de mel
Nunca seja pelo outro insignificante
Ou desprezada no seu dossel
5.Que nossas questões sejam boas
E nunca tomadas ou distorcidas
Não sejam aparentemente folhas
Da árvore da aceitação caídas
*
É sangue absorto da lata que abri
Entre acá novo dia, entre bem aqui
Dedo sangrando é o que me convém
Entre dias, ó, dias é o que me entretém
*
Tenho calos nos pés
Tenho calos nas mãos
Mas diante da vida
Nenhum calo, irmão
Vale mais que o saber:
Ouvidos atentos à razão
Para a tolice um “calo-me”
E para o sábio o coração
*
Adoro rir desses médicos, cientistas e doutores - que de tão soberbos - discutem a vida e o cavidoso!
Será que eles não percebem que tudo é um acento mui simples e meticuloso?
Primeiro, a vida te faz DOÍDO, depois te faz DOIDO!
*
ESTOU COMPLETAMENTE CONVENCIDO QUE MEU INDIVORCIÁVEL AZAR
NÃO É OBRA DO CRUEL DESTINO
MAS DA FRIA VONTADE DO “SOCIALIZAR”
*
A ÚNICA COISA QUE NÃO QUERO SER NA VIDA É NORMAL
SE ALGUM DIA ISSO ACONTECER
EU DEVO ESTAR MALUCO AFINAL
*
A gente trabalha pra viver, mas o tempo gasto de trabalho não nos permite vida ter
Depois do trabalho vem o cansaço, a estafa, o padecer...
O filho quer brincar mas os pais, exaustos, saem de fininho para nada fenecer
Já não têm folga, feriado, um tempo livre para uma paz conceber
Escravos do sistema, escravos modernos, escravos do quê?
Além do mais, já é hora de levantar pra outro dia comparecer
à marcha fúnebre de trabalhadores fantasmas, nas fábricas, nas enxadas, no tecer
Caem no grande moedor de carne da história e viram apenas purê
Gente sem alma, sem rosto, sem voz, sem ao menos saber
quem é seu carrasco, seu algoz atroz, seu explorador ou raptor de ser
Vivem por não ter nada melhor, vivem simplesmente por viver
Vivem por não ter pra onde ir, nenhum lugar pra se esconder
Vivem por não ter remédio, vivem à merce do tédio, vivem apenas, somente e exclusivamente por viver
*
O amor é uma flor roxa
que nasce no coração dos “trouxa”,
já dizia minha sábia avó!
É história da carochinha,
o amor é engano, lorotinha,
farinha que no ar vira pó!
Pra manter o casamento,
o amor é uma farsa, tormento,
coisa por demais cruel!
Enganação consentida,
abelha onde bate pica,
Goza e depois abandona o mel!
O amor é embuste, busto apertado
na câmara do vestido liso, corrompido,
pela língua do vil metal!
É erva que entorpece o ser desfalecido,
é sexo e apenas isso,
mas que o chamam de sobrenatural!
O amor nada tem de imortal,
morre feito mosca, barata, coisa e tal,
criação do espectro só!
É história da carochinha,
o amor é engano, lorotinha,
farinha que no ar vira pó!
O amor é praga vestida de florada,
gafanhoto devorando a massa,
pintos e vaginas de sangria!
Das criações é a mais cruel,
loucura, nádegas loucas de bordel,
ilusão criada pela própria ilusão da vida!
*
Todo cascalho que não serve
É atirado fora da peneira
Ver o sol nascer quadrado
É perenidade passageira!
Longevidade é longa vida
Que se vive sem resistência!
Foi um sonho mui perene
Que fez nascer nossa demência!
Perdura, dura e é rapadura
O pouco de comida no bornal
Perdurabilidade é só na cidade
Quando começa o carnaval!
O sertão é campo de defuntar
Urubu abotoa paletó do céu
A brevidade da vida e do ser
É perpetualidade da seca e do fel!
Eu lembro daquele bom cordel
Ainda era criança resistente
Mas foi a constância que velou
Meu amargo destino insurgente!
De canga e insurrecto era o cangaço
Mas perduravelmente durou pouco
Logo no início da resistência abracei o capeta
E com ele meu orgulho caiu morto!
*
Repousante é o túmulo da madre,
Do padre e do infante!
Eu os invejo, pois o tédio
Me consome vivo e nauseante!
O verdadeiro repouso aqui está -
Entre as lápides e oásis de quem
Acabou de chegar!
Mas o poeta não morre, eis sua sina
E maldição descabida, não pode
Repousar!
*
Não quero amor,
Quero destemor!
Morrer em batalha,
Com sangue e furor!
O amor é tosco,
Coisa sem arrojo!
Espada é coragem,
Intrepidez e fogo!
*
Porta fora
Porta dentro
Se algo importa
Nada sei
Se algo presta
Nunca vi nada
Se algo presta
Nunca prestei
*
Se Caim matou Abel
Se abelha nos dá o mel
Vi um elefante no céu
Com orelhas grandes e chapéu
*
Depois de décadas de serviços
Forçados, faminto, desnutrido E alquebrado…
Nem mesmo assim
Aceito teu banquete
Teu faisão
Nenhuma migalha…
Nenhum pedaço…
*
O perverso coloca a cabeça
No travesseiro e dorme tranquilo
Noite repleta!
Não há nenhum espanto nisso
Nenhuma surpresa
Basta ter um coração de pedra!
*
Se alguém perguntar como vivi
Diga que fui um vaso gretado!
Não quebrei na safra de buriti
Mas também não aparei o melado!
*
AH’UMANIDADE,
SE VOCÊ PRETENDE RECEBER
AJUDA, SE PREPARE PARA A
DECEPÇÃO!
AH’UMANIDADE,
A PRIMEIRA SABEDORIA AQUI
É A GRANDE HIPOCRISIA DO
CORAÇÃO!
*
Nunca tive valor vivo
Também não quero depois de morto
Despeje meu corpo n’algum buraco
À sombra do jatobá
Ou do coqueiro torto!
*
Não pense que há Deus
Nem diabo, nem maniqueísmo
Ou planos!
Vais passar tua eternidade
Com terra na cara e verme
No ânus!
*
QUANDO A PEDRA NÃO ACERTA
A VIDRAÇA
É UM TREMENDO SACRILÉGIO!
QUANDO O POETA NÃO TEM A MÃO PESADA
FOI CORROMPIDO PELO
PRIVILÉGIO!
*
Errada escolha a minha
Viver de aguarela e letra
Tomei ofício pela poesia
Mas bravura é a proeza!
Em terra firme tens vida longa
Encolhida e os tenébrios
Já comem tua carne!
Em alto mar, tu enfrentas
O Kraken, o Leviatã…
Há besta por toda parte!
*
A MULA NUNCA FOI MULA
A MULA FOR-MULA MUITO BEM
DEUS QUISESSE QUE EU TIVESSE
A FORÇA DO LOMBO DA MULA
PARA ENFRENTAR AS DORES
DA VIDA TAMBÉM
*
Eu prefiro ser um verme rastejante
Do que ser uma criatura alada!
O verme conhece os segredos
Da noite, lua, brisa e encanto!
Mas a frágil criatura alada,
no descuido de suas asas
Pode facilmente ser estripada
Pelo carcará que mata e come!
*
SE A ILUSÃO ENGANA A DOR
DA VIDA
ENTÃO QUE A VIDA SEJA DOCE ILUSÃO
ESTAMOS AQUI PASSANDO UMA CHUVA
NÃO FAÇAMOS DISSO UM DIFUSO FURACÃO
*
Minha pena pequenina
Dada pelo cerebero
Só escreve textos vazios
Ninguém quer lê-los
*
NEM O SOL
NEM A TERRA
NEM O UNIVERSO
NEM O FIRMAMENTO
SÃO MAIS PESADOS
QUE UMA SÓ FAGULHA
SOLTA, LIBERTA
DO PENSAMENTO
*
TENTEI SIGNIFICAR A VIDA
DEPOIS RESSIGNIFICAR!
FALHEI NAS DUAS SENDAS
NÃO ME CULPE POR TENTAR!
*
A EFÍGIE ESTAVA NO ANVERSO
E EU DIVERSO PERDIZ
QUIS VIVER DO VERSO
MAS O UNIVERSO NÃO QUIS
FUI CAUDA, NÃO CABEÇA
DE UMA SORTE SEM CARA
ENGANADO PELO BRILHO DA COROA
A EFÍGIE ME CUSTOU A PRATA
FRENTE E TRÁS, CARA E COROA
QUIS APENAS VIVER DO VERSO
MAS A MOEDA GIROU NO AR
E CAIU NA CAUDA DO CENTÉSIMO
OBSERVO QUE PERDI O OBVERSO
PERDI A CARA, PERDI A FACE
A MOEDA QUE LEVO ESCURECE
MAS LEVA CONSIGO DISFARCE
*
Eu lhe darei um pote, um pote sem tampa. Farás da tua vida uma corrida para achares a tampa desse pote. Percorrerás vales, montanhas, cidades, vilarejos e desertos. Passarás aflições, decepções, fome, frio. Mas também encontrarás amigos, gratificações e muita solidariedade. Quando achares a tampa ( se é que conseguirás achar ), não ganharás ouro, prata, setenta virgens ou mesmo vida eterna. Apenas coloque dentro do pote todas as suas vivências, experiências, pessoas, apertos, desafios que passastes para encontrar a tampa e feche o pote. Venha novamente até aqui e me entregue o pote. Eu acredito que se passarão longos anos até que você me traga a tampa, talvez nem possas me trazê-la. Mas eu estarei aqui, sempre estive e estarei aqui esperando por você.
Ora, quem eu sou? Eu sou o próprio pote sem tampa. E metamorfoseei-me em ti mesmo quando fechares o pote e desceres à sepultura…
*
Eu sou o pai das sombras, o mestre da mentira, a raíz da tormenta e o dilúvio da dor mais agoniante. Eu sou o artífice da discórdia, a árvore de todo mal, o chifre pontiagudo da besta e a cabeça do crime e da destruição. Eu sou a centelha do caos, a sedução da prostituta, a magia da luxúria e o sangue que escorre das garras. Eu sou o oráculo do mau presságio, a ave de mau agouro, o grito do desespero e o crocodilo devorador de homens. Eu sou o mapa da devastação, o arqueiro da insanidade, o brilho falso do ouro e a cobiça da humanidade. Eu sou o vazio da botija, o sereno da concupiscência, o pênis que adentra o rabo e o sangue que jorra do ânus. Eu sou a descrença da crença, a água fétida do parto, a mosca do abatedouro e o verme do corpo dilacerado. Eu sou a neblina que precede o coágulo, o tumor que cresce no cérebro, o feto morto na barriga e a bifurcação do caminho. Eu sou a guerra devastadora, o campo de soldados mortos, o sangue junto à lama e a mancha vermelha no horizonte. Eu sou o falso profeta, o âmago decadente, a presa do vampiro e o corpo pestilento de escrófulas. Eu sou a imundície mais podre, o pescado mais podre, a carne mais podre e a decomposição mais podre da matéria. Eu sou a erva daninha, o espinho no peito, o veneno da serpente e o leito da vil insônia. Eu sou a latrina repleta de fezes, o grosso corrimento vaginal, o lobo em pele de cordeiro, o pus e o punhal. Eu sou a lava quente do vulcão, a prisão do inocente, a vagina cheia de ferida e a vagina cheia de dente. Eu sou o amálgama da dor, o psicopata do machado, a mina do trem fantasma e a alma do corpo trucidado. Eu sou terra de cemitério, o aborto da caixa de sapato, o leão da carnificina e a parada do miocárdio. Eu sou a vela do caixão, a mão da lepra, a gangrena alastrada e o lastro da negra pena. Eu sou o poeta da agonia, a noite da maldição, eu sou o vento do infortúnio e o espinho no coração. Eu sou a putrefação do tecido, a escrófula do mórbido cheiro, a ferragem que atravessa o umbigo e o frio antes do medo. Eu sou simplemente o mal, o "devil", o lado negro, “o coisa ruim”. Eu sou simplesmente quem não queres ver, mas que fazes de tudo na vida pra me ver. Eu sou o lado sem esperança que a crença tenta esconder. Eu sou o teu sacrifício, o teu bode de chifres, a tua comunhão e teu consolo. Em breve, todos me conhecerão...
Hoje, encarnado, gotejarei na tua vagina na sexta hora, do sexto dia de 2026.
*
DE TUDO ALEGRE, VIVAZ E FECUNDO
É EMBALSAMADORA
DE TUDO FALSO, INÚTIL E OBTUSO
É INCUBADORA
*
DOS INSANOS MISTÉRIOS DA VIDA
A MORTE É, SIM, A MAIS ASTUTA
ELA FAREJA O MEDO COMO UM CÃO
AINDA QUE SEJA NA MÍNIMA FISSURA
DO ALTO DA GRANDE MONTANHA
OU DO INTERIOR DE UMA GRUTA
ELA FAREJA QUALQUER MEDO
E É VERDADEIRAMENTE ASTUTA
JAMAIS DA MORTE TENHA PAVOR
ELA VIRÁ TE BUSCAR NO MEDO
QUEM CORRE DO SEU ABRAÇO FÚNEBRE
ELA FAREJA QUAL CÃO PERDIGUEIRO
ELA TEM EMISSÁRIOS EM TODO MUNDO
SOMBRAS NEGRAS QUE SOMEM A FIO
JAMAIS TENHA SOBRESSALTO DA MORTE
OU DA ESPADA DE METAL MUI FRIO
*
SEJAS IMPREVISÍVEL E PERVERSO
COMO O LOBO FERIDO NA NEVE
VIVAZ E PULSANTE
COMO NERVOS À FLOR DA PELE
*
SEJAS MULHER
INTEIRA
DE VERDADE
TENHAS ALMA
ESTEJAS PRONTA
NUNCA PELA METADE
*
EITA, E AGORA?
O DIA JÁ ACABOU
A LUA SOBE
O GATO MIA LÁ FORA
EITA, E AGORA?
O INVERNO COMEÇA
O VENTO ESFRIA
LATA VAZIA DE SOBRA
EITA, E AGORA?
A SANTA QUEBROU
VIROU CACO NO CHÃO
O VENTO SOPRA
EITA, E AGORA!
ARMÁRIO VAZIO
BARRIGA MAIS VAZIA
NOSSA SENHORA
*
QUEM TU ÉS, POEDRA?
CREIO QUE TU NADA FOSTES!
FOSTES UM SACO DE MERDA?
MAS ATÉ MERDA VALE HOJE!
VEJAS A CULTURA BRASILEIRA
E NÃO TE PREOCUPES EM NADA
TU QUERES FAZER PARTE DISSO
TROUXA DE MERDA ENROLADA?
*
POR QUE O POVO VOTA
EM QUEM ROUBA E DIZ QUE FAZ?
“QUEM VOCÊS QUEREM QUE EU SOLTE
JESUS OU BARRABÁS?”
*
OUÇO GEMIDOS DO SEPULCRO…
“PAI, É O SENHOR? MÃE, É A SENHORA?”
SINTO MUITO POR TUDO…
NUNCA FUI UM BOM FILHO DE SOBRA!
*
MULA, NÃO ME MULES OU AMOLES
DISSIMULES, NÃO SEJAS TEIMOSA
ENGULAS O PRÓPRIO SENTIMENTO
O NEGÓCIO É MANTER A PROSA
*
FEZES PELA BOCA
DIAMANTE PELO ÂNUS
A BESTA DE CHIFRE LONGO
TEM UMA SALIVA E TANTO!
FAREJA NA ESCURIDÃO
UMA PRESA INDEFESA
E PELA FORÇA BRUTA
A SUBMETE À TODA VILEZA!
*
QUANDO EU ERA CRIANÇA
ACREDITAVA EM MILAGRES
QUANDO EU ERA MOÇO
ACREDITAVA EM MIRAGENS
QUANDO EU ERA MADURO
ACREDITAVA EM IMPASSES
AGORA QUE SOU VELHO
ACREDITO EM GOIANAZES
*
SE DE CIMA TE MOLHAS
AS NEGRAS NUVENS
DEVERÁS PASSAR A VIDA
EM BRANCAS NUVENS
*
A MORTE NÃO ME QUER
A MORTE NÃO QUER ME LEVAR
SOU SUA MELHOR PIADA
D’ALÉM TÚMULO, D’ALÉM MAR
O BUFÃO DA CORTE DIVERTE O REI
FAZ O REI RIR DE MATAR
O BUFÃO NÃO CORRE PERIGO
D’ALÉM TÚMULO, D’ALÉM MAR
*
UMA MAMANGAVA
NO MARACUJAZEIRO
POLINIZA A ÁRVORE
POLINIZA O PÉ INTEIRO
*
POIS BEM!
DAR-TE-EI
O QUE CONVÉM
O URUBU NÃO POUSOU NA MINHA SORTE
O DESGRAÇADO CAGOU NA MINHA CABEÇA
POIS BEM! DAR-TE-EI O QUE CONVÉM
DAR-TE-EI, Ó AVE, MINHAS TRIPAS SECAS
MAS NÃO VOU CHORAR, Ó AVE DE CARNIÇA
NÃO VOU CHORAR FEITO CRIANÇA MALUVIDA
ALMA RUIM, FUI BRUTO COM TODOS
MAS ACEITO O DESTINO QUE ME É IMPOSTO
NÃO SOU DAQUELES QUE IMPLORAM PERDÃO
COVARDES QUE MALTRATAM E BEIJAM A MÃO
ISSO É RAÇA DE GENTE FRACA E SEM VALOR
SE FUI BRUTO, ACEITO A SINA QUE DEUS MANDOU
POIS BEM!
DAR-TE-EI
O QUE CONVÉM
*
QUANDO O GRANDE PÁSSARO
URUBU URUCA CAGA
NA TUA CABEÇA - DESCONJURO!
ATÉ ABRIR UM ENVELOPE
É UMA TAREFA DIFÍCIL
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.