O Cheiro da Guerra

Dutra.

É forte o cheiro de sangue.
O cheiro de sangue é forte.
A morte tem cheiro de sangue, e o cheiro de sangue é forte.
O cheiro de sangue é forte, este que é derramado dos fracos, subjugados pelos fortes.
O forte cheiro de sangue é dos desamparados, dos esquecidos e dos rejeitados.
A guerra é cruel, injusta, inconcebivelmente burra, e o cheiro de sangue continua.
Corpos caídos, lama, sangue, verde, botas, cápsulas, tanques e, em meio a tudo, o sangue.
O sangue que escorre dos crucificados, pela injusta briga dos gigantes que julgam governar seu povo ao caminho melhor.
O sangue que escorre é dos fracos, marginalizados; é das crianças e mulheres que sequer tocaram em armas, canos, facas, mas, mesmo assim, não escaparam dos projéteis, bombas e desgraças.
Ó guerra injusta, mas qual guerra seria justa?
Qual lado está certo?
Quem é mais covarde, me diga, Deus?
Seríamos nós os seres mais desprezáveis da Terra?
Fadados ao fracasso e abandonados por Ti?
Matamos Teu Filho, e agora matamos os filhos dos nossos filhos em trincheiras cotidianas de violência e brutalidade.
Latrocínio, abuso, estupro, corrupção.
Lama, sujeira que permeia o sangue.
O sangue ainda fede.
E o fedor do sangue não para.
Enquanto existirmos, o sangue continuará a escorrer.
Enquanto os homens — homens de fato — continuarem a governar contra os fracos e a favor dos fortes, o sangue terá, cada vez mais, cheiro forte.
E, em um futuro não muito distante, não haverá nada, apenas desolação.
Choros tristes de órfãos, viúvas condenadas à loucura e homens condenados à culpa.
A guerra não muda, e o cheiro do sangue continua.

- L.DUTRA

  • Autor: Dutra. (Offline Offline)
  • Publicado: 26 de maio de 2025 16:18
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 6


Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.