“Quem és tu?” — balbuciava,
com voz de vidro trincado,
palavras que caíam
e morriam antes de tocar o chão.
Curiosidade e raiva,
um veneno morno serpenteando nas veias.
Por que o silêncio?
Por que esse mutismo pesa mais que qualquer berro?
Era um silêncio de forca,
que não estrangula de súbito,
mas aperta, devagar,
até que a alma implore por ar.
Num ímpeto, tentou ferir o espectro,
mas o golpe feriu-lhe a própria carne.
Na pele, no osso, no espírito.
O fantasma permaneceu,
imóvel, imóvel como a culpa.
Como pedra.
Como lembrança.
Como espelho.
“É delírio… alucinação…”
Mas quanto mais negava,
mais a verdade se infiltrava
pelas frestas de sua sanidade frágil.
Memórias se erguiam com correntes de remorso,
vultos ganhavam nomes,
nomes, lamentos.
“Ó minha amada… por que partiste?”
“Por que me deixaste neste mundo carcomido?”
Mas o tempo já havia respondido.
Nada muda.
Nada repara.
Nada volta a ser inteiro.
Ele era ruína.
E quem, senão ratos ou fantasmas,
moraria entre destroços?
Caiu, então, na mais doce armadilha:
a ilusão de ainda ser amado
por quem já se foi,
ou talvez,
por quem nunca esteve.
E os dias se esticavam como sombras cansadas,
e as noites…
noites longas como promessas quebradas.
O fantasma seguia ali,
feito parte da casa,
ou parte dele.
A fome partira.
A sede esquecera o caminho.
O tempo não chamava mais seu nome,
e ele já não sabia respondê-lo.
Era um corpo vivo,
com a alma sepultada.
À espera do esquecimento.
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Autor:
Toldi (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 26 de maio de 2025 00:03
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 2
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