Vozes ecoavam,
sopradas como poeira por frestas da mente.
Tão familiares…
e ainda assim,
estranhas como espelhos que se sonham.
O homem as ouvia, mas não as reconhecia.
Seriam suas?
Do ontem?
Ou do silêncio, a ranger ossos invisíveis?
“Estarei são?”
“Ou durmo de olhos abertos?”
Pensamentos giravam como dobradiças famintas,
e ele murmurava, ao vento:
“O trabalho… deve estar me matando.”
Tentava agarrar a lógica
como se fosse fumaça presa entre dedos sujos,
mas a razão escorregava.
E o sono veio:
amargo, como veneno dos que fogem de si.
Dormiu.
E o destino,
esse velho que ri das misérias humanas,
trouxe-lhe ventanias do passado,
soprando memórias que ele jamais quis colher.
“Se eu tivesse sido melhor…”
“Se não tivesse feito…”
E despertou, em sobressalto,
como quem escorrega no abismo do próprio nome.
Mas as vozes… não cessaram.
Agora sussurravam o indizível,
e entre sombras que roçavam as bordas da visão,
vultos dançavam como verdades evitadas.
E então… ele apareceu.
O fantasma.
Encapuzado, o rosto perdido na sombra,
como se o tempo se recusasse a lembrá-lo.
Suas mãos,
marcadas por açoites invisíveis,
como se o mundo as tivesse punido
vez após vez.
Mas ele não falava.
Não uma sílaba.
E seu silêncio, mais denso que o próprio grito,
era um abismo sem eco.
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Autor:
Toldi (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 25 de maio de 2025 00:25
- Categoria: Reflexão
- Visualizações: 3
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