Meu coração... ah, meu coração —
é um rio de águas turvas, onde nem mesmo a luz ousa habitar.
Nada se enxerga em seu leito profundo,
senão as dores antigas, que não partem, que não saram,
fantasmas que se deitam sob as ondas e sussurram lembranças.
Dize-me, ó eco dos tempos,
em que ponto falhamos por sermos nós mesmos?
Se os olhos alheios não enxergam o espelho que nos habita,
como então ser visto, senão por dentro?
Procurei o caminho de volta,
mas pergunto ao vento: há mesmo um lar ao qual retornar?
Ou seria tudo saudade do que nunca existiu?
Queria apenas sentar-me à margem do rio,
escutar a música do mundo,
e fundir minha alma com cada acorde —
até que o tempo se rendesse ao instante
e o instante virasse eternidade…
ou então um sonho do qual ainda não despertei.
Ser forte deixou de ser virtude.
É agora um fardo, um fôlego imposto.
Enquanto isso, a criança dentro de mim grita.
Grita… e eu a observo morrer em silêncio,
impotente,
como quem vê o fogo consumir um lar e não tem água nas mãos.
E, mesmo assim… sim, mesmo assim,
creio que há um céu oculto além das nuvens da existência,
onde habita algo mais excelente
do que a brisa que consola,
mais puro que o riso mais sincero.
Francisco Monteiro.
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Autor:
Francisco Monteiro (
Offline)
- Publicado: 24 de maio de 2025 20:17
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 4
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