O silêncio das constelações e o fumo dos homens

Anna Gonçalves



Sentada no chão, onde a luz do poste não alcança,  
a árvore que tampa desenha sombras no meu quintal e sobre a janela da sala
O poste, vencido por folhas, balança  
e a noite se faz mais escura..
E eu, mais alta....

 

Observo as estrelas, os satélites frios que cortam o céu,  
máquinas de luz cruzando um pequeno vão eterno.  
Bolo meu tabaco, acendo devagar,  
enquanto a fumaça se esvai nesse recém inverno.  

 

Mazzy Star cantando com sua voz melancólica e triste,  
e cada verso me trás lembranças,
penso na vida, no que ainda existe,  
no que se perdeu no que já foi esperança,
no que ainda há esperança...

 

Degusto os meus pensamentos, amargos e doces,  
como as folhas secas caindo no que o vento arrasta.  
E as horas, um velho ladrão, não socorre,  
mas nesta calçada, sou dona do basta.  

 

A rua em frente é um caminho,
onde todos caminham,
o céu continua sendo um abismo para nós que pertencemos ao chão,  
e eu, sentada aqui, ainda sou nada e tudo 
um ponto de luz, um breve cismo,  
uma parte do homem, um fumo e um verso mudo.

  • Autor: Anna Gonçalves (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 24 de maio de 2025 20:14
  • Categoria: Reflexão
  • Visualizações: 9


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