I
Era para eu te amar assim que meu ventre rasgou.
Era para eu dar à luz e te ver como fonte dela.
Era para
Eu rir da dor,
Amar a dor,
Amar ser sugada até o meu limite.
Não o limite de ser amada,
Mas o de ser de alguém.
Inteiramente de alguém.
Mas o meu limite é a dor.
A dor de me perder para alguém,
A dor de me rasgar para alguém,
A dor de me transformar em outro alguém.
II
Eu olhei você e te segurei;
Mas eu não queria.
Disseram-me:
Jamais solte ele
A pretensão é não o deixar ir,
Nunca.
Mas eu te queria longe, o que eu poderia fazer?
Largar-te ao chão
Seria uma redenção.
Mas não a Cristo,
Mas sim aos humanos
Que iam me prender a cruz para me apedrejar.
Então te segurei,
E forcei o amor.
III
Jurei te amar.
Jurei te guardar de novo em mim,
Quando eu nem conhecia esse amor.
Situações mundanas que nos impõe.
Amar o que ainda não conhece;
Amar aquele que você nem sabe quem é.
Quando na verdade,
O amor é uma construção
De um edifício de dois mil andares
Que demora milênios para ficar pronto.
Que na verdade nunca fica pronto.
E mesmo assim você
Ama.
Enquanto isso você
Situa-se ali,
Entre amar o desconhecido primeiro
E amar você em segundo.
Entre amar o desconhecido como nunca amou alguém
E esquecer de você como se você nunca tivesse existido.
IV
Não me culpo de não te amar ao ver seus olhos
Antes mesmo de eles terem uma cor fixa.
Não me culpo de ter observado você chorar,
Ao invés de te pegar no colo.
Não me culpo de chorar ao te ver chorar.
De chorar ao me ver no espelho.
De chorar ao ver a roupa não caber nos dois momentos:
Muito apertado e muito folgado.
Não me culpo de comer primeiro
Para depois ver você me sugar.
Mas culpo a sociedade de ter mentido para mim antes de eu te parir.
Nada são flores e eu posso ser o seu espinho.
V
Eu escolhi te amar quando eu realmente pude.
Eu escolhi te amar após me amar.
Eu escolhi ser eu,
E não ser a mãe de quem.
Fui capaz de amar após cruzar
A minha rua e a rua tão sua e minha.
E assim percebi que são fronteiras, mas cada uma por si só.
Assim como há a rua tão sua e só sua.
É a individualidade do ser
Mãe
E do ser eu.
Nada são flores,
Mas ainda assim é necessário o adubo.
Há a construção de um ser;
E a construção de uma relação.
Nada floresce do nada.
E nada floresce
Apenas com a sementinha que foi plantada em meu ventre.
VI
O amor genuíno habita entre:
Carregar você no meu ventre quase que acidentalmente,
E carregar você posteriormente.
Estar entre tirar você de dentro de mim a força,
E descobrir que você é você,
Apenas por ser.
Sem conexão a mim.
Descobrir que você é quem
Quer que seja independente de eu ser
Mãe de quem.
Apenas por ser alguém.
Em sua essência.
Você,
Muito além de laços sanguíneo.
- Autor: Débora ( Offline)
- Publicado: 14 de agosto de 2020 00:22
- Comentário do autor sobre o poema: Visitem @versosquevoam
- Categoria: Não classificado
- Visualizações: 26
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