Folha!

Nos corredores, por semanas
Só passos, distâncias, almas humanas.
Você: silêncio.
Eu: resguardo.
Duas presenças que não se evitavam,
Mas também não se encontravam. 

Até que o acaso, vestido de ausência
Me colocou ao seu lado numa agenda.
E ali, no simples, quase sem querer
Foi onde vi você acontecer. 

Fui com receio, confesso! 
Temi que sua inquietude fosse um muro impenetrável
E que meu jeito fosse excedido demais. 

Mas encontrei elegância no seu silêncio
E gentileza em cada gesto.
Havia cuidado nas palavras escolhidas
Beleza nos gestos, na medida. 

Vi a grandeza de quem não precisa se mostrar
Para que o mundo possa notar. 

Virei fã, sem muito disfarce.
Não pelo que você diz, mas pela tua classe: 
Você é sossego que não pede atenção
Mas mora no fundo de qualquer coração. 

E um dia, entre agendas e pressas
Dois segredos se cruzaram...
O meu: pulsava no peito, ardente;
O seu: sussurrado, quase ausente. 
Ambos guardados em silêncio sagrado
Pedindo cuidado. 

Você, que entende os instrumentos,
Lê as entrelinhas, os movimentos
Vai reconhecer no que agora escrevo 
O início suave de um som, ainda em segredo.

Existem coisas que a gente diz sem pensar
No ritmo do invisível dá para sentir
Como o som de uma flauta que ainda não tocou
Mas que o coração já sabe ouvir. 

E a ti, que sente além da razão 
O Criador entrega uma canção
Ainda sem som mas já inteira,
Gravada em tua alma, verdadeira. 

Agora és folha nas mãos do Senhor
Que escreve suave, com puro amor 
Compondo em ti, sem pressa ou dor
A melodia mais linda que em ti já habitou. 

Hoje, sem dizer demais
Te escrevo com afeto que vai além dos sinais. 
Pois vi, sem precisar ouvir
O que só corações atentos podem sentir. 

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Singela homenagem para uma querida colega médica
que me contou - ainda em segredo - que estava grávida de pouquíssimas semanas.
Deixo por escrito toda minha admiração para a pessoa incrível que a
Dra. Maria Luiza (carinhosamente chamada de Marilu) é!