Clamor por Nova Alforria
Urge nova abolição, em nossos dias,
Pois fomos doutrinados em vã crença,
Que a Áurea Lei, em suas frias vias,
Trouxera aos servos negra independência.
Mas cedo a tez, em seu fulgor sombrio,
Pretere os filhos da africana cepa.
Em vão ansiaram, com fervor bravio,
Ocupar os recintos que a alma lhes acepa.
Hoje a verdade escancarada assoma:
Escola, clubes, labor, e até ascensores,
"Não são" para quem a melanina toma
Vulto maior, em tristes dissabores.
E mais perplexos, vemos quem ostenta
Traços ancestrais, em vulto e em cor,
Aceitando a afronta que se apresenta,
E a outrem permitindo tal furor.
A exclusão vil, por míseros afetos:
"É quase da família", frase vã.
"Trabalha tanto", em torpes preceitos,
"Que à nossa mesa pode ter seu manã".
Pais, na defesa vã de seus rebentos,
Vigiam-nos, temendo ousadias,
Que ultrapassem os limites dos conventos
Do "aceitável", nas modernas sesmarias.
Em vão o saber, a lide esforçada,
Sempre há quem busca o negro afastar.
E quando a cor sua origem não guarda,
Relega os seus, seu culto, seu altar.
Mães, em ritual de embranquecimento,
Químicas, laquês, em vão labor.
Tentam afastar prole do tormento,
Da vala comum, de funesto terror.
Maquilagens falhas, fantasmas sombrios,
A cor da pele, em luta desigual.
Da pele de quem? Em vãos desvios,
Na eminência da vitória, o mal.
Pois usam "mérito" em torpe manobra,
Para negar que o negro possa ascender.
"As chances estão aí, a alma se dobra,
Faça por merecer", em vão querer.
Sabem que a sorte não se iguala emvero,
Conforme a força dos contendores.
"Nada é de graça", o dito severo,
Mas para poucos, vêm sem maiores dores.
Morada, transporte, saúde, folia,
Salários, "mérito" em tudo se encerra?
Não! São direitos, em justa valia.
Mas quando a conquista a alma descerra,
Os senhores da casa-grande moderna
Alteram as regras, em torpe sofisma,
Ao rudimento a lei humana retorna,
Tornando a todos em moderna cisma,
Servos modernos, em triste jornada,
"Colaboradores", em vã alcunha.
Manter o negro, em sina obstinada,
Com brancos, amarelos, em pobre comunha.
Pobreza em comum, em servil estado.
Não há mais dúvidas, a verdade clama.
Precisamos, em anseio inflamado,
Sim, precisamos de uma nova aclama,
De uma nova, justa Abolição!
Prof Djalma
Novembro 2019.
Novembro 2019.
Para poder comentar e avaliar este poema, deve estar registrado. Registrar aqui ou se você já está registrado, login aqui.