Você sente todos eles dentro da sua pele, as garras abrindo suas veias como couro velho.
Você diz a si mesma que jamais deixaria que eles se aproveitassem de você. Mas até mesmo sua arte não é mais sua. Suas mãos, que um dia estiveram sujas de tinta, agora estão atadas por correntes feitas de puro medo: medo da decepção, medo do arrependimento, medo do desconhecido, medo de se tornar apenas mais uma pincelada em um grande quadro de tantos outros iguais a você.
Você se agarra a pequenos confortos que, no fundo, sabe que nunca serão suficientes. Afinal, você está apenas procurando por algo que a tire da gaiola dourada, que a solte das correntes do medo e que diga que, finalmente, sua liberdade é inteiramente sua. Ainda assim, você não é completamente lúdica — sabe muito bem que esperar por um “salvador”, um “quebrador de correntes”, não é o que irá libertá-la disso.
A única que pode fazer isso é você. Mas sua gaiola é gigante e esmagadora, as correntes são pesadas como aço legítimo, e sua respiração parece fraquejar mais a cada hora grande e dolorosa que passa. Enquanto você se perde, de novo e de novo, nas roupas caras, nos objetos brilhantes e nos elogios tortos, cheios de expectativas que saem da boca de seus donos, torce para que um dia eles se cansem da atração natural que você se tornou. Torce para que, algum dia, eles se esqueçam do quanto você pode diverti-los — e finalmente a soltem.
Torce para que, quando isso acontecer, você não tenha desaprendido a voar.
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Autor:
Estrela viajante (Pseudónimo (
Offline)
- Publicado: 14 de maio de 2025 04:10
- Categoria: Triste
- Visualizações: 4
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