Certa vez indaguei à mente:
— Qual foi o instante mais marcante, realmente?
Ela, sem hesitar, me revelou:
— Foi quando, do ventre, à luz você brotou.
Contestei com doce objeção:
"Mas já vivi tanta emoção...
Tantas conquistas, tantas belezas,
Em minha trilha cheia de surpresas..."
E ela, serena, respondeu com razão:
— Nada disso teria fundação
Sem aquele sopro primeiro de vida,
Sua origem, sua partida.
Sem plena certeza, fui ao coração:
"Qual foi o dia de maior vibração?"
E ele, com voz suave, então falou:
— Foi quando teu peito o amor tocou.
Mas qual amor, ó peito encantado?
O de amar ou ser amado?
O afeto de mãe, o ardor apaixonado,
Ou o carinho de um filho abençoado?
Fiquei ali, imerso em devaneios,
Recordando velhos anseios...
Eis que surge, em leve cena,
Uma borboleta, simples e serena.
Com cores vivas, como arte em movimento,
Trouxe-me de volta ao momento.
Indaguei, num sopro de poesia:
"Borboleta, qual foi o meu maior dia?"
Ela dançou no ar com leveza,
E pousou-me a vista numa velha beleza:
Uma foto — eu, recém-nascido no colo materno,
Um retrato doce, terno e eterno.
Então pensei: a razão tem sua porção.
Mas num segundo giro, nova direção:
Levou meus olhos a outro retrato,
Com minha esposa e filhas num abraço exato.
Será que o sentir tem fundamento?
Que o coração tem seu argumento?
Num voo calmo, cruzou a janela,
E me mostrou a luz que emana dela.
Do outro lado, o mundo brilhava:
O sol sorria, a árvore dançava,
Um menino ria com seu pai ao chão,
O horizonte me chamava à contemplação.
Então compreendi a lição que ela me trouxe,
Com a leveza de quem nada impõe ou force:
“O dia em que nasceste foi um marco inicial,
Mas muitos dias foram tão especial.
Cada gesto de afeto, cada emoção vivida,
Cada queda, cada ferida,
Cada perda, cada vitória,
Todos são páginas da tua história.
Mas hoje, agora, este é o dia essencial.
É nele que reside o milagre vital.
Então não o deixe passar em vão,
Viva-o com alma, com paixão.
Pois um dia será o último alvorecer...
E o hoje, o mais importante a se ter.”
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