Soterrada viva

Maria Ingrid

É estranho pensar que
alguém pode morrer por dentro
e continuar respirando.

eu morri.
e foi você quem enterrou.

ninguém viu.
ninguém ouviu.
ninguém sentiu. 
ninguém quer saber.

lá fora o mundo segue 
gente rindo,
gente correndo,
gente vivendo. 

e eu? 
eu ainda acordo cedo.
ainda lavo o corpo como se isso bastasse.
como se a água pudesse apagar tuas marcas da minha alma.
como se arrancar a pele me fizesse esquecer tuas mãos.

não esqueço.

tua voz ainda mora nas paredes do meu crânio.
teu sorriso falso
tua respiração ainda pesa no meu pescoço.
e eu engulo tudo 
o silencio, o nojo,
os cacos de vidro.

ninguém quer ouvir.
já foi, mas ainda tá aqui
na cabeça, no peito, nas entranhas.
tá em todo lugar.

sangra quando ninguém vê.
eu parei de tentar limpar.
o que você deixou, ninguém tira.
você me enterrou com os olhos abertos.
e eu ainda vejo tudo.

consciente demais.
viva demais.
morta demais.



  • Autor: Maria Ingrid (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 9 de maio de 2025 14:00
  • Categoria: Triste
  • Visualizações: 10
  • Usuários favoritos deste poema: Drica


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