Flores mortas

"Viva, por mim"
Que frase estúpida.
Se nem por mim consigo viver,
quem dirá por você?

Destrua meus pulmões,
o ar me envenena.
Aperte meu coração,
enquanto bater,
eu sentirei.
E sentir já não me serve.

Queria aliviar o peso das costas,
abraçar alguém,
mas cada toque me causa repulsa.
Existe mesmo alguém digno de confiança?

Amei com ardor,
só pra descobrir que jamais amei verdadeiramente.
Sou um caso perdido?
Um erro lamentável?
Cortar meus órgãos não trará paz,
só deixará minha carne à mostra.

Medo.
Angústia.
Todos ao meu redor, predadores imundos,
enquanto rastejo pelas sombras.
Eles me caçam com olhos famintos.
E eu?
Só sei sentir medo.
Medo de quê?
Paranoia?

Quis tanto ser amada,
pra agora tremer ao menor sinal de afeto.
Sinto minhocas atravessando minhas veias,
explodindo-as por dentro.
Sou um verme,
uma criatura repulsiva,
nascida pra satisfazer e ser descartada.

Culpa. Medo. Angústia.
Há algo mais pra sentir?
Já não basta?
Por que, Deus?
Por que me destes isso?
Não podias me conceder alegria?
Ou esperar um pouco,
pra eu não perder meus anos de ouro?

Achei que estava bem de novo.
Diferente, mas bem.
Ou será que não?
Será que só me acostumei à dor?
Será que já nem a reconheço?

Teço cordas de farsa,
e me perco no labirinto de forcas.
Palavras de aço
derretem na minha garganta.

Sinto falta do que fui,
quando não era esse ser grotesco.
Quando ainda havia ternura em mim.
Agora sou só um saco de flores mortas.
Isso é o que sou.
Ou o que sobrou de mim.

Você pediu minha última pétala.
Eu dei.
Mesmo sabendo que não devia.

Crio sentimentos falsos,
esperando ver os outros felizes.
Esquecendo de mim.

Sorria, cãozinho!
O campo de flores deve continuar belo!
Eco apodreceu com a rejeição.
Narciso, perdido em si mesmo.
Ambos murcharam.
Nunca mais voltaram.