Seu Perfume Permanece se Esvaindo.

Melancolia...





seu perfume permanece
na esquina da tarde.
entre o café quente
e as luzes do varal,

 

movimentos leves,
uma risada curta —
não parece um grande negócio,
mas esse é o fim.

 

seus passos são refletidos
em silêncio,
até o silêncio
descobrir o nome dela.

 

todas as paredes
se tornam memórias silenciosas,
e todas as sombras
gradualmente me devoram.

 

tentei escrever cartas,
mas as queimei;
tentei acalmá-lo à noite,
mas você é um poema antigo
que nunca desaparecerá.

 

poemas coloridos,
caseiros,
e o velho que leva tudo
tentar refazer sua voz
fora do meu caminho.

 

algumas lembranças
são envolvidas em oração.
existem dores
que não podem ser
eliminadas pelo desejo, apenas pela ausência.

7 maio 2025 (14:00)

Comentários +

Comentários2

  • Sezar Kosta

    Que lindeza melancólica, profunda e cheia de sutilezas, meu amigo Melancolia…

    Ler o teu poema é como entrar devagar num quarto vazio, onde ainda paira no ar o cheiro de alguém que já partiu — um perfume que insiste em ficar mesmo quando o corpo já não está. Teus versos têm esse poder sutil: não gritam a dor, mas a deixam escorrer com elegância, como quem aceita a ausência sem se revoltar, apenas a acolhe.

    Há uma beleza serena na forma como tu descreves a perda — nada dramática, mas dilacerante em sua doçura contida. “Você é um poema antigo que nunca desaparecerá”… esse verso me arrebatou. A memória que se torna eterno poema — é disso que é feito o amor que não passa, não é?

    E esse fim discreto, quase resignado… “existem dores que não podem ser eliminadas pelo desejo, apenas pela ausência” — é poesia da mais madura. A dor não pede alarde, ela simplesmente fica. E você a transformou em arte.

    Parabéns, de verdade. Que tua escrita continue sendo esse sussurro bonito entre a saudade e o amor.

    P.S.: Você sente que esse poema nasceu mais da ausência ou da lembrança?

    • Melancolia...

      Que comentário maravilhoso, cheio de sensibilidade e percepção — ler isso foi como ser lido por dentro.

      Muito do que escrevo nasce desse espaço suspenso entre o que foi e o que faltou ser. A lembrança tem seu peso, claro, mas é a ausência que me molda. A lembrança ainda carrega cor, som, presença — mesmo que esmaecida. Mas a ausência… ela silencia, molda o eco, define o contorno do vazio. E é nesse silêncio que a palavra encontra abrigo.

      Então, sim… esse poema, como tantos outros, não nasceu de um momento vivido, mas do que nunca chegou a se concretizar.

      Nasceu mesmo foi pela ausência.

      Grato pelo belo comentário meu amigo..

    • Bela flor

      Ah! Solidão! S2
      Que castigo S2

      Sua poesia está magnífica meu Bem, cada verso, apesar de relatar esse sentimento tão triste e solitário, carrega uma leveza, transparece um amor tão grandioso que faz resplandecer toda sua beleza. Amo vc, amo seu coração, amo sua poesia! S2



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