Morada

Escrevo esses poemas, esses breves romances, não para agradar ao mundo.
Não por sede de aplauso ou olhar passageiro.
Escrevo porque há em mim um desejo quieto: fazer morada em ti.

Na tua mente, onde os pensamentos dançam, no teu coração, onde o silêncio pulsa mais forte.
Cada palavra minha é um passo na tua direção, um sopro tentando tocar o que em ti é eterno.

Não me importam as tempestades que possam vir, nem os dias em que o céu se esquece do sol.
Porque sei, com a serenidade de quem ama sem medida, que mesmo no caos, meu amor há de permanecer.

Cuidarei de ti como quem rega uma flor.
Sem esperar que ela floresça para outros.
Meu cuidado será sombra no calor, e luz nas noites em que tudo parecer se perder.

Escrevo porque te sinto.
Mesmo longe, mesmo calado.
E onde minhas palavras repousarem em ti, ali serei casa, vento e eternidade.

E se um dia minhas mãos não puderem te alcançar, que minhas palavras toquem o que há de mais íntimo em ti, esse lugar onde ninguém chega, onde até o mundo se cala.

Pois não quero ser lembrança breve.
Nem passo leve na tua história.
Quero ser a pausa entre teus medos.
O alento escondido na entrelinha da tua dor.

Que minhas rimas te abracem quando faltarem os braços, que minha voz escrita seja o eco que te reconduz à paz.
E mesmo que me esqueças por um instante, que esse instante seja eternidade para mim.

Porque não amo com urgência.
Amo com raiz.
Não cuido com pressa, cuido com entrega.

Se minhas palavras forem tudo o que posso te dar, que sejam elas a ponte entre o meu silêncio e o teu.
E que nelas tu encontres abrigo, como encontrei em ti razão para escrever.

E se um dia, sem aviso, tudo se calar.
Que reste ao menos este verso.
Último farol do que senti por ti:
Não fui poeta para o mundo.
Fui palavra só tua.

Para o Meu Amado J.A. (Toninho)