a tempestade que criaram em mim!

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a tempestade que criaram em mim 

eu só queria que me entendesses,
que ouvisses o que nem sempre confesso.
estou presa numa espiral de dor,
onde fugir parece ser o único progresso.

queria que a distância não fosse solução,
que estar longe de ti não curasse o coração.
mas odeio-te na mesma medida
com que te amo… e isso é uma rebeldia.

não preciso de ajuda, preciso de clareza,
de verdades nuas, não de beleza.
contaram-me histórias em que já me confundi,
e nem tu sabes qual mãe eu perdi.

tantas mães e nenhuma presença,
apenas um pai, uma avó e uma crença,
um amor que me segura e se esconde,
num mundo onde tudo é sombra e corresponde.

sou feita de porquês, de dúvidas cruas,
de perguntas lançadas às ruas.
queria respostas, mas recebo enigmas,
e os teus gestos vazios.

procuro uma mãe, não um jogo escondido,
será que busco algo que nunca foi vivido?
não sei o que é, mas sei o que não é,
nunca o tive… e doeu como a ma maré.

no fim, isto será só mais um poema,
que o destinatário ignora o tema.
e eu fico aqui, sem chão nem verdade,
a viver no eco da tua falsidade.

dizem que sou eu quem tudo complica,
mas aqui a dor é quem mais se explica.
nesta família, o que reina é o não dito 
o silêncio, o grito, o insulto maldito.

todos querem ser o que nunca foram,
respeito? só se o mentirem e omitirem.
mas eu sou o que sou: tempestade,
filha da vossa crueldade.

fui tocada sem proteção,
e a tua reação?
foi virar-me as costas,
como se eu não fosse tua aposta.

era para sermos nós contra o mundo,
mas escolhias o amor vagabundo.
e agora eu?
vejo-te em mim e isso é o meu fim.

tenho as cinzas de algo que não queimei,
e mesmo assim, o fumo é o que herdei.
porque é tão difícil quebrar o ciclo,
quando fui moldada nesse ridículo?

não me deixas voar, prender é mais fácil,
e eu, a tentar sair desse espaço frágil.
talvez eu ate precise de ajuda, talvez,
mas a melhor resposta que ouvi
foi o teu silêncio outra vez.

não me lembro da infância com ternura,
só flashes entre dor e amargura.
nenhuma memória em que foste abrigo,
só abandono, castigo…
e um vazio antigo.

lembro-te no fundo do quarto,
presa ao ecrã, tão farta do meu parto.
lembras-te de perguntar pela escola?
sabias que a cor da minha pele era a minha esmola?

não tinhas tempo para ver a exclusão,
nem que o YouTube era a minha salvação.
não te culpo por tudo mas culpo-te por não seres,
por seres mãe só quando te convém apareceres.

quando me batias, não era o corpo que doía,
era a alma que se desfazia.
ficava com a certeza cruel
de que viver era erro,
e que eu era o papel…
rasgado do teu livro velho.

ensinaste que erro se paga com dor,
e eu repito esse padrão com fervor.
posso quebrar, eu sei que posso.
mas se nem tu adulta conseguiste…
quem sou eu no meio deste fosso?

dizes que me amas mais do que tudo,
mas talvez seja esse amor tão mudo
que me faz duvidar do meu valor,
e fugir sempre que me tocam com amor.

no fim, só não quero ser como tu.
mas carrego-te em mim.
as tuas cinzas ardem-me a pele,
e mesmo que negues…
a minha dor não é novela.

tu que te finges de esquecida,
e eu aqui, a tentar dar sentido à vida.
queria esquecer como tu esqueces,
mas isso não me tornaria igual?

  • Autor: a tempestade (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 3 de maio de 2025 17:22
  • Comentário do autor sobre o poema: Este poema é uma catarse. É o espelho de tudo o que ficou por dizer durante anos e que foi sendo engolido em silêncio. Não é apenas um texto: é uma ferida aberta, uma memória viva e uma tentativa de organizar a dor com palavras. Escrevê-lo foi uma forma de dar voz à criança que eu fui — aquela que só queria ser vista, ouvida, protegida. É um confronto direto com a figura materna, mas mais do que isso, é uma busca pela identidade, pela liberdade de não carregar o que me deixaram como herança emocional. Falo do abandono, da confusão, do amor misturado com raiva, da solidão dentro de casa temas que, para mim, são reais, vividos, marcados. Não escrevi para acusar, mas para libertar. Há revolta, sim, mas também há um apelo por cura, por uma nova forma de existir onde eu possa deixar de ser apenas reflexo da dor que me criaram. este é o primeiro de muitos, afinal aqui so se relata 1% das minhas experiencias
  • Categoria: Triste
  • Visualizações: 3


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