Sobrevivente

Como convencer a alma, agora em pedaços,

de que tudo não passou de ilusão?

Como calar o vazio que grita,

quando vemos que anos de amor

foram dados a quem não merecia?

O que fazer das memórias,

agora manchadas,

de um passado que suplica para ser esquecido?

Como enterrar os sonhos,

os planos que chamávamos de “nossos”,

mas que sempre sonhamos sozinhos?

Ninguém deveria carregar tamanha ferida;

mais digno seria receber a ausência

do que sofrer o açoite da traição.

Neste mundo cruel,

o maior desafio não é encontrar quem nos ame,

mas sobreviver

depois de amar quem nunca soube nos merecer.

Lembro-me de Cristo, que foi traído por um beijo

daquele que um dia considerou seu amigo.

Como é difícil encarar tal realidade!

Mas, assim como a dor da traição não impediu que Cristo ressurgisse,

também veremos renascer em nosso peito o amor e a esperança

que um dia nos foram roubados.