A GATA DA DONA FRANCISCA

joaquim cesario de mello

 

Junto da casa da minha avó

Dona Francisca tinha um gato siamês

gordo, branco e de pelos curtos

com imensos olhos de azuis fundos

como se fossem duas safiras

feitos são os olhos dos anjos que nos guardam

 

O gato de Dona Francisca

passava as tardes na janela

estirado sobre suas patas domésticas

observando as crianças brincarem na rua

e os velhos conversando nas calçadas

 

Parecia ver o tempo lento passar

mas gatos não sabem ler relógios

nem que data é o dia de hoje

(gatos não carecem de números

embora sete sejam suas eternidades)

 

Tinha medo do gato de Dona Francisca

nunca sabia o que ele estava pensando

talvez me achasse tão apetitoso

tal qual lhe são os desejados ratos

 

O gato de Dona Francisca não fazia

coisa nenhuma ou absolutamente nada

apenas espreitava fixo o entardecer

como se aguardasse caviloso a madrugada

 

Os felinos não sabem, mas também eles

atravessam a vida nas janelas

nas poltronas, nos sofás e nos telhados

até que as tardes desapareçam

e ele se mudem para o sótão da minha avó

pois é lá que na minha infância,

era o lugar onde morava o paraíso dos gatos

 

Não gostava de dormir na casa da minha avó

achava os quartos mal-assombrados

e toda vez um pouco antes das pálpebras hibernarem

ouvia vindo de cima o miar manhoso dos gatos

 

Hoje a casa da minha avó já não existe

derrubaram-na para alargar a rua

onde antes vivia o gato de Dona Francisca

com seus imensos olhos de azuis fundos

feitos são os olhos dos anjos que nos aguardam

 

Em que parte do céu é o céu dos gatos?

 

  • Autor: joaquim cesario de mello (Offline Offline)
  • Publicado: 29 de abril de 2025 14:31
  • Categoria: Não classificado
  • Visualizações: 4


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