O cativeiro

Isis P. Told

Passei tempo demais tentando agradar,
como um rio represado, deixei de fluir,
negando as correntes que vinham me guiar.

Minhas vontades viraram assombros,
meus desejos, névoa, perdidos nos ombros
do vento que passa sem se demorar.

Meus amores? Apenas ecos distantes,
vagando sozinhos por grutas errantes,
presas no nada que fui a criar.

Mas nada disso mais importava,
eu só queria que ele fosse feliz,
com ou sem o peso da minha presença.

Tornei-me um campo de espinhos dormentes,
engoli cada sílaba, temi ser cortante,
rasgar de uma vez a frágil miragem
do pouco que havia entre nós.

Meus gestos sumiram, atados no medo,
minhas mãos, raízes, fundindo-se ao chão,
sem ousar um toque, sem mover um véu,
temendo ruir teu mundo em vão.

E, no fim, foi tudo inútil.
O inevitável rasgou-se no tempo.
Enquanto me atava, te enredava,
sem perceber, tornei-me o labirinto
que te afastava de mim e de ti mesma.

E tu, vento livre que nunca se prende,
tentaste escapar das amarras do ausente,
desatar os nós que tracei sem querer.
E no fim, não fui eu, foste tu,
quem achou a chave e rompeu os laços,
livre, ao passo que eu fiquei,
segurando grilhões que um dia julguei
serem só meus.

  • Autor: Told (Pseudónimo (Offline Offline)
  • Publicado: 27 de abril de 2025 00:05
  • Categoria: Triste
  • Visualizações: 14
Comentários +

Comentários1

  • MAYK52

    Um belo poema, envolto num manto de melancolia e tristeza.
    Gostei de ler.

    Abraço

    • Isis P. Told

      Aprecio seu comentário, muito obrigada!



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