Entre anjos calados e demônios acordados

Iaraxwz

Anjos murmuram promessas de paz

com vozes finas demais pra acalmar o peito

suas asas cansadas mal sustentam a fé

e ainda assim, continuam ali — imóveis, atentos

como quem espera uma queda já prevista


Mas os demônios, ah…

esses dançam com pressa sobre a pele

arranham o peito com unhas de lembrança

e apertam, sem piedade,

até o ar virar caco, até o grito ser silêncio.

Há uma guerra que ninguém vê,  

onde o corpo treme, mas não corre,  

onde o coração grita, mas não sai som.  

E no meio desse campo invisível,  

as palavras se desfazem antes de serem ditas,  

como se a boca soubesse que não adiantaria.

 

O passado bate à porta com rosto que não se lembra,  

mãos estendidas cheias de pedidos,  

mas nenhum abraço verdadeiro.  

E então acusam, como se amar fosse obrigação,  

como se ausência não fosse também uma forma de cicatriz.  

E as cápsulas voltam como soldados de paz,  

mas há paz em não sentir?  

Ou é só um silêncio forçado  

que mascara o caos do lado de dentro?

 

E mesmo quando o abrigo tem nome

e mora no colo de alguém que acolhe,

o corpo falha, congela, esquece como se mover

é o paradoxo de querer e não conseguir

de precisar e, mesmo assim, não caber.

 

E no final, quando tudo silencia  

e os anjos se cansam de sussurrar,  

resta a pergunta que arde mais do que tudo:

Se eu não sinto o que esperam de mim...

será que sou menos digna de sentir algo,  

ou só mais honesta por não mentir pro coração?

 

Comentários +

Comentários1

  • Drica

    Gostei! Lindo título!

    • Iaraxwz

      Olá, obrigada! Que bom que gostou.



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